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    Rückkehr nach Montauk
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Rückkehr nach Montauk

    Luxuosa nostalgia

    por Bruno Carmelo

    Na primeira cena deste drama, Max Zorn (Stellan Skarsgaard) está falando diretamente para a câmera. Ele compartilha um episódio vivido com seu falecido pai, em tom solene, sob uma luz escura. Logo, percebemos que se trata da leitura de um trecho de seu novo livro, organizada num evento luxuoso para a nata intelectual de Nova York. Nos próximos 100 minutos, o espectador acompanha uma série de cenários paradisíacos, casarões milionários e objetos caríssimos em meio aos quais se desenvolve a história de amor entre Max e a advogada Rebecca (Nina Hoss).

    A intenção do roteirista e escritor da obra original, Colm Tóibin, é realizar uma espécie de As Pontes de Madison do século XXI, ou seja, uma história de amor breve e intensa entre adultos compromissados, que marca a história de ambos pela vida inteira. Porém, enquanto o filme de Clint Eastwood era repleto de silêncios e subentendidos, este roteiro pretende esclarecer tudo na base dos diálogos. É impressionante como os personagens não param de falar, sobre o que pensam e sentem, sobre o que fizeram e ainda querem fazer. Mesmo alternando entre uma série de cenários e cidades, Return to Montauk deixa a impressão de se tratar da adaptação de uma peça de teatro, ao invés de um romance.

    O maior acerto do diretor Volker Schlöndorff está na escolha do elenco. Stellan Skarsgaard e Nina Hoss são atores excelentes, e ambos estão confortáveis em seus papéis, interpretados com bem-vinda sobriedade. Susanne Wolff, como a esposa de Max, consegue equilibrar o aspecto romântico ao interpretar uma mulher forte e progressista. Apesar da boa construção dos personagens, alguns de seus conflitos soam como o cúmulo da vaidade social e cinematográfica: um grande problema na vida de Max é aceitar ou não um quadro original de Paul Klee, oferecido como presente por um bilionário, enquanto Rebecca hesita se compra mais uma casa gigantesca à beira do mar, temendo que ela seja “bonita demais”. Dura vida.

    Por trás do humanismo e da abordagem madura do amor na faixa dos 40-50 anos, existe um verniz excessivamente lustroso. O cineasta usa e abusa das belas cores da paisagem, dos figurinos impecáveis de seus personagens, das lojas hipsters e caríssimas de Nova York. O sofrimento destes amantes ricos soa como autopiedade, quando se queixam da vida dificílima que levam, apesar de tudo ao redor conspirar a seu favor, financeira e emocionalmente. O reencontro dos amantes torna-se um golpe do destino, uma dessas reviravoltas romanescas improváveis, mas potentes ao vender a ilusão de amores eternos e intervenções providenciais.

    Por um lado, graças ao roteiro e aos aspectos técnicos, Return to Montauk poderia ser comparado a uma telenovela de grife, estrelada por ótimos atores desfilando entre marcas e propagandas turísticas – uma espécie de Sex and the City. Por outro lado, Schlondörff é talentoso o suficiente para evitar o dramalhão e conduzir este projeto com a austeridade necessária. O resultado final é o típico projeto que funciona bem nos circuitos de arte dos bairros nobres de grandes cidades, por sua aparência elegante, bem-acabada.

    Filme visto no 67º Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2017.

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