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    Taego Ãwa
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Taego Ãwa

    O documento como arte

    por Bruno Carmelo

    É comum o documentário histórico utilizar a construção artística na intenção de se tornar, ao longo do tempo, um registro do tema escolhido e do tempo em que foi produzido. Taego Ãwa, ao contrário, apropria-se de registros anteriores sem intenção artística para transformá-los em obra de arte.

    No caso, os diretores Henrique Borela e Marcela Borela se interessaram por cinco fitas VHS encontradas numa universidade, contendo imagens da tribo indígena Ãwa. As imagens cotidianas apresentam os índios caçando, se pintando, preparando alimentos. São registros etnográficos, de estética protocolar, mas ricos no propósito documental de deixar marcas sobre um povo perseguido e exterminado por brancos desde os anos 1970.

    Taego Ãwa não separa formalmente as imagens antigas, resgatadas pelos diretores, dos registros recentes, quando os cineastas visitaram gerações contemporâneas dos Ãwa. Existem diferenças perceptíveis na textura da imagem, nos enquadramentos e nas mudanças naturais do cenário, mas o projeto decide criar uma espécie de contínuo temporal, inscrevendo a permanência dos Ãwa num registro mais cultural do que propriamente histórico.

    O filme efetua ao mesmo tempo um trabalho de construção e de desconstrução: enquanto cria um novo discurso e associa de modo inédito imagens que nunca foram feitas para coexistir, ele efetua rupturas nos significados das imagens preexistentes. A montagem é caótica, mas parece ter sido feita no exato intuito de confundir a linearidade própria à compreensão histórica. Desta maneira, algumas observações apolíticas dos índios se combinam com imagens de figuras políticas, enquanto cenas de ações cotidianas dos Ãwa são colocadas lado a lado com momentos da invasão da tribo no Planalto, quando exigiram a demarcação e restituição de suas terras.

    O resultado pode ser desconexo, desigual, às vezes esticado em algumas cenas, e sucinto demais em outras. Do mesmo modo, os letreiros finais tratam de explicar, didaticamente desta vez, tudo aquilo que a imagem não conseguiu explicitar por si só – algo que revela as limitações discursivas do projeto. No entanto, em sua simplicidade imagética e limitações de produção, Taego Ãwa faz um uso inteligente da linguagem, provocando dissonâncias num subgênero tão engessado quanto o registro documentário das culturas indígenas.

    Filme visto na 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2016.

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