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    Pérfida
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    Billy Joy
    Billy Joy

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    5,0
    Enviada em 29 de setembro de 2021
    A narrativa em Pérfida progride essencialmente pelo confronto verbal entre os personagens, num jogo de dominação e interesses velados que contaminam o ambiente familiar e levantam questões a respeito do american way of life. William Wyler estabelece suas ideias nessa obra-prima através da subjetividade em cada relação entre seus personagens, articuladas através de uma mise-en-scène que apresenta elementos emergentes do que então seria tratado como cinema moderno.

    Pode-se afirmar que o filme de Wyler carrega um aspecto que remete até ao teatral, por conta das longas cenas internas, com entrada e saída de personagens no quadro. Entretanto, uma abordagem rigorosamente teatralizada se tornaria rapidamente desinteressante, não fosse pelas escolhas estéticas próprias do diretor. Merece destaque o uso pontual de travellings e pans sutis que acompanham a movimentação em cena e reenquadram pontos centrais da sequência. A angulação da câmera e elementos do cenário são utilizados para estabelecer relações de poder e submissão, sem soarem demasiadamente didáticos, pois toda a atmosfera do filme contribui no desenvolvimento dessas relações.

    Um aspecto que realça a dramaturgia do filme, e o coloca definitivamente como exemplar de grandes obras do cinema moderno então emergente, é um equilíbrio entre a verbalização das intenções de seus personagens e uma decupagem que, em muitas cenas, fala por si só. A cena de Regina, interpretada por Bette Davis, durante o infarto do marido é um ótimo exemplo disso. Numa movimentação dentro do plano e em sutis movimentos de câmera Wyler inverte a posição de primeiro plano, do marido para a esposa, para evidenciar a escolha fatal feita por Regina. As atuações magistrais de Davis e Herbert Marshall e a composição do plano conseguem entregar toda a dramaticidade que uma montagem entrecortada ou um diálogo expositivo explorariam de modo superficial.

    Em outros momentos, a presença de quem pouco participa verbalmente das cenas acaba ressaltando o tom da narrativa. São personagens que ocupam um canto do enquadramento, geralmente em segundo plano ou, em alguns momentos, mais próximos à câmera, porém fora do centro do quadro. Seus silêncios e resignações dizem muito mais do que quaisquer diálogos em cena. Suas meras presenças físicas pontuam o sentimento de desamparo perante um ambiente familiar predatório.

    Desilusão. Talvez seja esse o sentimento primordial que emana dos personagens no filme de Wyler. É uma espécie de conformismo perante as decisões tomadas na vida, configurados no aprisionamento de sonhos dentro de uma necessidade social. Um senso de desilusão com uma sociedade pseudomoralista, materialista e deslocada de preceitos religiosos que calcaram o caminho das gerações anteriores.
    A sociedade em Pérfida não escraviza mais os negros, mas os mantém em servidão e amarrados a compromissos financeiros nefastos. A onipresença dos mesmos como uma figuração servil aqui pode, sob uma perspectiva atual, soar racista, mas ressoa na ideia geral do filme.

    E isso só se torna possível porque o que fica em segundo plano em Pérfida parece muito mais humano do que o núcleo de relações entre os irmãos da trama. São fragmentos de uma humanidade, desiludida e acossada, que se apresentam no quadro como fios de esperança. Os planos compostos e a profundidade de campo aqui trabalham para deixar à vista a expressão de todos os personagens em cena. Torna-se um uso que vai além dos aspectos práticos da encenação para conferir maior dramaticidade às cenas, como ao indicar a presença de um personagem oculto aos demais, ou ressaltar os efeitos desse ambiente mesquinho em caráteres fragilizados.
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