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    O Renascimento do Parto 2
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    O Renascimento do Parto 2

    Meu corpo, minhas regras

    por Francisco Russo

    O início de O Renascimento do Parto 2 é aterrorizante, especialmente para quem já passou pela experiência da gestação. Imagens amadoras escancaram a brutalidade de um parto digno do jogo de sete erros, seja pelos comentários feitos ou pela própria postura dos médicos, atirando o bebê no colo da mãe para, logo em seguida, acusá-la de ter contaminado o recém-nascido ao simplesmente tentar tocá-lo. Ao trauma psicológico soma-se ainda a adoção da temida manobra de Kristeller, que pressiona a barriga de gestação para forçar a expulsão do bebê, tão abrupta que o próprio filme emite um alerta em amarelo.

    Como um imenso pesadelo para toda e qualquer gestante, esta sequência mais uma vez dirigida por Eduardo Chauvet prega a denúncia acerca da violência obstetrícia. É claro que o tema central do documentário original, a preferência pela cesariana em decorrência do parto normal no Brasil, é abordado, mas com bem menos peso. Desta vez, Chauvet prega ainda mais a autonomia das mulheres, não apenas no sentido de decidir o que ser feito em seu corpo mas, especialmente, na necessidade de mais afeto na condução de um momento tão sensível e tão marcante quanto o nascimento de uma nova vida.

    Para contrabalançar tamanho horror, o diretor intercala momentos de choque com sequências de parto natural, de forma a ressaltar a beleza do momento. Aos poucos variações surgem em cena, do parto pélvico ao domiciliar, passando ainda pela peculiar (e inspiradora) história de uma mulher sem pernas que deu a luz. Tudo de forma bem didática, entremeando depoimentos de parturientes com especialistas. A cota de celebridade é desta vez preenchida por Fernanda Lima, o que ao menos serve de gancho para a abordagem da gestação de gêmeos.

    Como reflexo das agruras e delícias do nascimento, O Renascimento do Parto 2 atinge seu objetivo. Trata-se de um filme escancaradamente direcionado às mães - ou futuras mães -, o que por outro lado não o isenta de certos problemas técnicos. Se a opção por fazer entrevistas dentro de uma sala de cinema é incompreensível, não só pela escolha do local mas também pela iluminação obviamente deficiente, o filme derrapa mesmo é na edição, conduzida pelo próprio diretor, que por vezes interrompe o áudio quando a pessoa em cena ainda está falando. Manipuladora e excessiva, Chauvet torna o filme cansativo pelo retorno a temas já abordados e uma insistência em não encerrar o longa-metragem, estendendo-o ao máximo sem necessidade.

    Produzido a partir de crowndfunding, a existência desta sequência é a comprovação da necessidade em se falar mais abertamente de temas acerca da gestação, sejam eles específicos ou não, afastando-se cada vez mais de romantizações ou tabus. Não por acaso, o próprio longa-metragem já anuncia a realização de um terceiro filme e, na Netflix, há uma extensa série com o mesmo título, dos mesmos realizadores. Como cinema, há ainda alguns passos necessários para ganhar credibilidade, especialmente nos aspectos técnicos e até mesmo conceituais acerca da narrativa. Ainda assim, a força do tema - e de certas imagens - o torna suficientemente atraente, especialmente para quem está, ou esteve, envolvido pelo contexto abordado.

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