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    Piadeiros
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Piadeiros

    Quando a forma vale mais que o conteúdo

    por Renato Hermsdorff

    O documentarista Gustavo Rosa de Moura (Cildo) percorreu as cinco regiões do Brasil – e mais uma boa parte de Portugal – com uma missão original, mas, em princípio, pouco cinematográfica: buscar pessoas anônimas (portanto não profissionais) que saibam contar piadas, daí o título Piadeiros.

    O primeiro risco se dá na medida em que a ideia do projeto tem como base mapear um comportamento, antes de tudo, baseado na tradição da oralidade, ou seja, pouco imagético – do qual a literatura talvez fosse um destino final mais apropriado; um segundo desafio, exposto na obra, passa pelo convencimento da participação dos personagens – ao mesmo tempo em que atrai alguns, a câmera repele outros; por fim, há o risco de o espectador não achar graça das piadas contadas, mas aí já é outro departamento.

    Gustavo e sua pequena equipe superam as duas primeiras questões com um recurso simples: a opção por revelar os bastidores da busca por contadores de anedotas. Assim, o cineasta e seu time tornam-se eles próprios personagens do filme, o que contribui para construir uma narrativa dramática em torno do objetivo, ao mesmo tempo em que confere um certo ar de autenticidade à missão (um dos entrevistados, por exemplo, que não perde a piada, mas se recusa a aparecer, participa apenas por meio da gravação em áudio, com o fundo preto).

    Descobrindo o filme junto com o espectador, o realizador se revela livre de teses. Não há uma dissertação previamente formatada na qual o diretor e seu time pretendem fazer caber a audiência. E, embora esse seja o grande barato do longa, seguir uma das várias linhas descobertas pelo diretor ao longo do fazer – e pontuadas por ele – poderiam dar uma dimensão mais ampla do comportamento sociocultural dos brasileiros (e portugueses) a partir de um viés diferente e divertido.

    Em sua investigação, que tem como ponto de partida postos de gasolina e mercados municipais, Gustavo, por exemplo, levanta a dúvida sobre por que tão poucas mulheres contam (ou topam contar para a câmera, pelo menos) piadas no Brasil; em outro momento, conclui que, hoje em dia, as pessoas se recusam a contar piadas racistas quando filmadas, mas que ainda não têm vergonha de reproduzir anedotas machistas ou homofóbicas.

    São atalhos que dariam mais significância a Piadeiros. Como ensina um dos personagens, um humorista português (o único profissional entre os entrevistados, aliás), o que importa não é a piada, em si, mas a maneira como ela é contada (não à toa, uma mesma anedota, presente no filme, que tem como foco uma rixa regional – entre Brasil e Portugal, por exemplo – é adaptada para a versão de “vencedores” e “vencidos” a depender de quem a conta).

    Da mesma forma, a maneira como Gustavo e cia. contam seu filme é atrativa; mas o road movie esbarra na irrelevância quando restrito unicamente à contação das piadas, que a plateia pode julgar engraçada ou não. Mas aí já é outro departamento.

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