Em um cinema lotada de filmes de suspense iguais, “Corra” não revoluciona o gênero, mas faz de um jeito ousado e diferente, conseguindo unir blockbuster a um cinema altamente artístico, não temos aquela sessão de um susto por minutos e nem personagens rasos com interpretações vazias e crianças fantasmas, nos temos personagens complicados, complexos, alto desenvolvimento, critica social, uma espetacular direção e grandes atuações, o ousado novado Jordan Pele, acostumado a atuar, e fazendo sua estreia como diretor lembra nomes como Spielberg por apostar que o lado artístico alinhado a um bom roteiro é melhor que uma apelação para chamar o publico, também tem um lado Stephen King, por transformar de algo tão mundano e natural em algo que caminha ao linearidade do sobrenatural e oculto e porque até não Hitchcock e até Shyamalan, e em alguns momentos lembra muito “A Ilha do Medo” de Scorsese, pois Jordan, faz de “Corra” uma concha de retalhos do que melhor o suspense tem a oferecer, mesmo que cometa pequenos errinhos. “Corra” conta a historia de Chris (Daniel Kaluuya), um jovem negro que vai até o interior para conhecer os pais de sua namorada, Rose (Allison Williams), chegando na casa, Chris começa a perceber que a família tem algo a esconder...Parece até uma sinopse de sessão da tarde, mas o filme vai além, o roteiro é ótimo, é linear, sabe criar uma tensão como poucos, deste o primeiro segundo de filme a gente nota que tem algo errado, deste o primeiro cumprimento algo agonia o telespectador, mas o filme tem um alivio cômico que incomoda, ele quebra a tensão do filme, o filme passa por mais de uma hora construindo uma tensão, e no lugar de deixar o telespectador entrar, conjecturar e refletir até chegar uma hipótese sobre a construção do filme, tudo que imaginamos sobre o desfecho é verbalizado numa piadinha, e isso é horrível, mesmo a solução final sendo bem criativa, a ultima cena não agrada, mas também não é de todo mal. O filme faz uma critica a uma escravidão pós moderna, e o filme todo é cercado de uma tensão racial que é sufocante, mesmo sendo bem estereotipados em alguns pontos, o filme faz pegarmos nojo de personagens não pelos mesmos verbalizarem um racismo desenfreado, mas sim por o ocultarem, isso é novo, é bem construído, e deixa uma critica muito bacana. Diferente da maioria dos filmes de suspense a onde uma tensão precisa ser criada, “Corra” tem uma fotografia extremamente clara, com uma paleta quente, sua fotografia é quase alegre. Permeada por uma trilha sonora sensacional, que vai de Hip-Hop a musica clássica, é aqui que, guardada as devidas proporções, Jordan brinca de ser Hitchcock, usando a musica de fio condutor e de termostato do publico, a sonoplastia não precisa ser usada para assustar, pois o objetivo não é esse, é criar a tensão, e a trilha sonora é completamente perfeita nesse aspecto, outra coisa que é perfeita é o jogo de câmera que Jordan usa, também emulando Hitchcock, a câmera não fica parado filmando um quadro, ela tem vida, pois mesmo com poucos movimentos, ela cria uma tensão absoluta, sempre sabendo se posicionar no ângulo certo, ela filma os personagens de um jeito, que mesmo todos sorrindo e alegres, você fica preso na cadeira e de punho fechado, porque sabe que algo está errada, não podemos deixar de citar o ritmo que vai numa onda crescente extremamente visível e que pauta os atos excelentemente, e contribui para não apenas a construção da tensão, mas a construção de enredo e de personagem. Com um elenco, que mesmo sendo pouco conhecido, é completamente fabuloso, não irei citar todos os atores, pois até os personagens secundários assombram, até aquele personagem lá no fundo, que não tem dialogo algum incomoda, todos estão maravilhosos, mas vou citar nossos protagonista, Chris (Daniel Kaluuya), pois é o que tem uma atuação mais diferente, pois é o que faz o pape de se sentir desconfortável e intuitivo com a situação, mesmo com poucas palavrar e poucas expressão, Daniel tem um postura incrível, e uma comunicação verbal que fala por si só, isso é muito interessante, o que cria um ator de muitas facetas e completo. “Corra” tem problemas, é verdade, mas mesmo assim é empolgante, é diferente, e é suspense em sua mais plena naturalidade.