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    Nojoom, 10 anos, Divorciada
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Nojoom, 10 anos, Divorciada

    Como pode?

    por Taiani Mendes

    Em 2008 surpreendeu o mundo a história de Nujood Ali, menina de dez anos que se tornou a mais jovem divorciada do planeta, no Iêmen. Auxiliada pela jornalista francesa Delphine Minoui, a jovem levou sua experiência para a literatura e a cineasta Khadija al-Salami decidiu adaptar a narrativa para o cinema. Ótima decisão, afinal 70 mil garotas morrem anualmente por causa de casamento infantil - diz o filme - e todos os meios possíveis devem ser utilizados em favor da denúncia desse absurdo. No entanto, infelizmente não há nada elogioso a ser dito sobre Nojoom, 10 anos, Divorciada, à parte o valor humanitário. Dotada de experiências anteriores como documentarista, Al-Salami conduz sua obra como uma paupérrima dramatização televisiva da pior qualidade, o que acaba por enfraquecer o impacto da chocante história real.

    Tudo começa com Nojoom (Reham Mohammed) saindo de casa para comprar pão. Chegando na padaria, uma lembrança feia toma a tela e faz com que ela decida fugir não sabemos bem de quem ou do quê. Se o título não fosse Nojoom, 10 anos, Divorciada, o mistério inicial faria mais sentido, porém ainda assim é marcante o momento em que ela finalmente tem acesso ao juiz e declara: "Eu quero me divorciar". Tem início então um novo flashback, gigante, em que o drama completo da pequena é apresentado. O fato de Nojoom estar contando as coisas, no entanto, trata-se de uma mera muleta, logo esquecida. Ela narra até o que não vivenciou, como os momentos que antecederam seu parto, a decepção de seu pai ao saber que tinha ganho uma filha, o dilema de seu nome - a irmã queria Nojoom (que significa "estrela"), mas ele insistiu em Nojood (que significa "escondida") - e a negociação de cavalheiros que consolidou seu casamento.

    "Se quiser ir para o Paraíso, case seus filhos", diz a música que embala o primeiro contato da menina com uma noiva. Encantada pelo vestido branco, ela mal imagina o que a espera, ao passo que o público médio consegue sem qualquer dificuldade prever que a seguir será a vez de seu próprio matrimônio, certamente sem qualquer pompa. Assim, de obviedade em obviedade, a trama avança, com a menina vendendo a aliança para comprar uma boneca, abandonando a festa para brincar com as coleguinhas da mesma idade e sendo maltratada pelo misógino pai. Ninguém estranha o fato dela ser uma noiva tão nova. Ninguém explica a ela o que irá acontecer. Ninguém a ajuda. A situação é toda bastante triste e desoladora e só vai piorando, com Nojoom sendo estuprada pelo marido, apanhando e sofrendo maus-tratos diários, preferindo a morte. Uma verdadeira tragédia apresentada sem qualidade técnica, roteiro minimamente bem construído ou atuações aceitáveis. É impossível não pensar que um documentário teria sido muito mais eficaz na transmissão da mensagem, pois a cada cena Nojoom, 10 anos, Divorciada comprova não ter cacife para carregar os temas complexos com que flerta. Apenas a misoginia é explicitada com eficiência.

    Talvez a ingenuidade do filme funcione para converter aqueles que não veem erro no casamento infantil, mas para todos os outros acostumados com a prevalência da lei dos homens diante da lei de Deus, o crime é apresentado de forma rasa, além de ser quase justificado (!). Os homens dizem "Case-a aos oito anos e não haverá danos" e o longa responde com "Conhecimento é luz". Realmente é, só que não recuperará a infância perdida por Nojoom e por todas em semelhante situação calamitosa. A afirmação, no contexto, é tão inofensiva e risível quanto a resolução da questão judicial na trama. E meninas continuam casando antes da menarca e morrendo em decorrência disso.

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    Comentários

    • Jorge Kamache
      Não concordo com a crítica feita pela Taiani, que deve gostar dos filmes americanos rocambolescos, cheio de efeitos especiais e com roteiros intrincados que são supostamente explicados no minuto final do filme, deixando os espectadores se perguntando sobre o ocorrido nesse ou naquele momento. Definitivamente, o filme em tela não é para concorrer ao Oscar. Cinema, no meu entender, é emoção, e isso não falta ao filme, quando pouco por mostrar como se organiza e funciona uma sociedade tão diferente da nossa e como se adapta o elemento humano. Nota 4,5 por conta de algumas poucas deficiências técnicas.
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