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    Aquarius
    Críticas AdoroCinema
    5,0
    Obra-prima
    Aquarius

    O valor da memória

    por Francisco Russo

    Você com certeza conhece a frase "o Brasil é um país sem memória", legado de décadas de incompetência administrativa na manutenção de documentos e construções. Com a velocidade dos dias atuais e o avanço da tecnologia, pode-se dizer que tal conceito ficou ainda mais amplo com a inevitável tranferência de CDs, DVD e outros objetos em matéria digital. Consciente desta época em que o novo é glorificado e o velho deixado de lado por muitos, o diretor Kleber Mendonça Filho fez deste o mote principal de seu novo filme: Aquarius, selecionado para a mostra competitiva do Festival de Cannes.

    O confronto entre o velho e o novo surge na figura de Clara, personagem entregue a Sonia Braga. É ela a dona de um apartamento cobiçado por uma imobiliária, que já adquiriu todos os demais imóveis do prédio. O objetivo é pôr tudo abaixo e construir um prédio novo, mas Clara se recusa a vendê-lo. É seu lar há décadas, foi onde criou seus filhos e, ainda hoje, vive bem. Daí surge o conflito, que resulta em ameaças veladas e provocações.

    Mais do que simplesmente criar opostos, Aquarius quer tratar do valor da memória através da compreensão do que é antigo, sem que seja necessário descartar o novo. Tal imagem está representada na própria protagonista, escolhida a dedo. Estrela maior do cinema brasileiro nos anos 1980, Sonia Braga andava meio sumida. Seu resgate é não apenas uma imensa homenagem a tudo que fez pelo cinema nacional como também uma quebra de expectativa em relação ao que representou como símbolo sexual, potencializando o próprio conceito explorado pelo longa-metragem. Só que Sonia não se contenta apenas com este simbolismo automático e entrega uma das maiores atuações de sua carreira, fruto de uma complexidade emocional e ética impressionantes.

    O público tem a chance de conhecer Clara ainda nos anos 1980, no flashback que abre o filme. A partir de suas origens, é construída a personalidade desta mulher independente e decidida, apaixonada por música e liberal, afetuosa e que mantém o desejo carnal em dia. Entretanto, é através das relações que Clara mantém com os demais personagens que se entende melhor o carinho e o respeito com os quais trata e exige ser tratada. Porque ela não é mulher de engolir desaforo, muito pelo contrário, e deixa isto bem nítido. Trata-se de uma personagem fascinante que, além de possibilitar a explosão do talento de Sonia, ganha relevância ainda maior por ser um papel feminino tão intenso, de alguém que não depende da ajuda de homens para seguir em frente.

    Só que Aquarius não se resume apenas ao talento de Sonia e à valorização da memória. Assim como fez em O Som ao Redor, o diretor espalha vários comentários e situações ácidas que tão bem representam a hipocrisia existente na convivência diária entre classes sociais no país. O próprio conceito de ética é também trabalhado em relação ao mercado, pela forma como os representantes da construtora se comportam a partir das seguidas recusas de Clara. Há ainda o olhar absolutamente natural sobre a sexualidade, como algo decorrente da existência humana. Inclusive, chama a atenção o contraponto criado da primeira memória sexual surgir justamente durante uma pacata reunião familiar.

    Com um olhar extremamente afetuoso em Clara e a partir dela, Aquarius ainda brilha pela trilha sonora, repleta de referências emocionais e históricas ao que é ser brasileiro. A fotografia solar também merece destaque, ressaltando as várias fases e a beleza da praia de Boa Viagem, e também a amplitude do apartamento em que Clara vive. Além disto, há certos enquadramentos que impressionam, seja por criar falsas expectativas sobre o que está por vir ou simplesmente pela sequência de eventos tão díspares exibidos com um mero movimento de câmera.

    Lidando com a linha tênue entre a nostalgia e a memória, Aquarius é um belíssimo estudo sobre o Brasil atual e suas idiossincrasias, apontadas com olhar clínico e sem lantejoulas pelo diretor, muitas vezes de forma bastante política. O melhor exemplo é a discussão ocorrida sobre a falta de caráter humano, de uma importância abissal para a própria vida e que poderia ser facilmente encaixada em vários outros absurdos cotidianos do nosso país. Um filme marcante e necessário, especialmente para uma época sombria de relações humanas tão degradadas.

    Filme visto no 69º Festival de Cannes, em maio de 2016.

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    Comentários

    • Nivio Marcelo A.
      Assisti ontem na madrugada na Sessão Coruja da Globo.Sinceramente falando perdi meu tempo de sono atoa. Eita filminho ruim!! Lendo que a produção custou três milhões de reais a coisa fica pior ainda. Eu não tenho formação em artes cênicas muito menos em produção e direção cinematográfica, apenas detenho bom gosto para saber o que tem valor ou não, assim como o público que vê apenas o que se apresenta e não fica inventando desculpas elogiando isso ou aquilo. Esse filme não tem pé nem cabeça, mesmo tendo uma protagonista conhecida porém esquecida. Não tem história nem roteiro, dinheiro gasto atoa, jogado pela janela do apartamento 6 do Ed. Aquarius.
    • armaquis
      Dizer que houve um confronto entre o velho e o novo é ser muito generoso com o comentário. Uma construtora quer comprar o apartamento de Clara e ela não quer vender. Depois de mostrar isso, o filme passa somente a acompanhar o cotidiano da personagem. Ninguém aparece lutando pelos seus objetivos. O pessoal da construtora mal aparece. Clara apenas passeia, anda pela praia, vai a festa, viaja. Não vai à luta, não briga, não faz nada de relevante. Não há uma disputa, um diálogo marcante, nada. Ninguém demonstra algum interesse de verdade. Nenhum personagem tem carisma. Depois de duas horas de filme o autor lança mão do deus ex-machina e sem criatividade nenhuma um documento que poderia arrasar com a construtora aparece nas mãos de Clara. Ninguém explica o que é, a construtora desdenha do seu conteúdo e o filme acaba. Parecia que o filme ia esquentar nessa hora mas simplesmente acaba. Quem ficou com o apartamento: Clara ou a construtora? Clara resolveu se mexer? Houve um confronto real? Ninguém sabe, porque o filme acaba nisso.
    • armaquis
      O pior de todos pra mim.
    • Roberto Gilnei Jr.
      Acabei de ver no Netflix e gostei muito! Só que ele não é um filme que vai agradar todo mundo. Ao mesmo tempo em que tem momentos nada sutis (como as cenas de sexo), tem dramas que são bastante sutis e interessantes (como a mulher que está comemorando aniversário e, ao mesmo tempo, tem uma foto grande homenageando o filho que morreu atropelado). O próprio câncer da protagonista é abordado com sutileza em boa parte do filme. Não é dito a doença que ela teve, mas fica implícito quando ela tira o sutiã e mostra que há apenas uma mama. E achei genial os modos diferentes que a construtora usou para tornar a vida da protagonista um inferno.
    • Roberto Gilnei Jr.
      Não quis sair do apê por ligação afetiva. Era o apartamento da Tia Lúcia e foi onde ela criou os filhos. Totalmente compreensível.
    • Marcelo C.
      Concordo em número, gênero e grau.
    • Marcelo C.
      Nem a atuação dela. Fico pensando que ela nem devia ter aceito fazer um filme assim. Foi pífio.
    • Marcelo C.
      Cinema de alta qualidade? Faltou roteiro de qualidade, faltaram interpretações convincentes, e o final? Bem, este nem existiu.
    • Marcelo C.
      Mostra justamente que o filme foi feito para isso e não para ser um bom filme, pois passou longe disso.
    • Marcelo C.
      Nossa, primeiro filme que me anima a fazer críticas. Mas por ser uma decepção. Falta um roteiro melhor trabalhado, e uma finalização. O Final não existe.
    • Marcelo C.
      Concordo completamente. Querem um cinema nacional revigorado, mas pegam um roteiro com grandes possibildades e fazem algo raso.
    • Marcelo C.
      Fiquei traumizatizado, kkkk. Perda de tempo total, inclusive falo para amigos, que não se animam a assistir
    • Marcelo C.
      Realmente ruim, concordo, e o final? Ele não existe. Não há conclusão.
    • Marcelo C.
      Realmente ruim, Falta um final, e as atuações são sofríveis. E todo o roteiro muito básico. A história podia ter rendido muito mais, mas ficou rala.
    • Cido Marques
      Tu é virgem cara?
    • Cido Marques
      Sai dai coxinha
    • Ana Célia Gomes Pedroso
      O filme É um fracasso! É PÉSSIMO!
    • Rafael Tavares
      Na minha opinião o filme é muito ruim. A estória até que é boa e poderia render um bom filme, mas há falhas bizarras. A interpretação dos atores é sofrível (em alguns momentos parece que vc tá vendo teatrinho de colégio do segundo grau).O texto se perde em vários momentos. Você fica esperando um baita diálogo e de repente vem uma merda. Além disso, o final é típico de produções mal administradas que se vê com o dinheiro acabando e cria rapidamente uma cena desleixada e sem nexo para encerrar o filme. Em fim, lamentável.
    • Icaro
      Que perda de tempo este filme...
    • Marcio Melo
      kkkk
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