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    Julho-Agosto
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Julho-Agosto

    As férias da minha vida

    por Taiani Mendes

    Laura (Luna Lou) é uma menina de 14 anos que bebe, xinga, fuma e coloca fogo na caixa de correio do apartamento em que vive para impedir que a mãe receba uma carta da escola. Os hormônios estão em ebulição, mas o primeiro amor ainda não apareceu, tampouco a menarca. Inconformada como um adulto birrento e curiosa como todas as crianças, ela enfrenta a complicada transição da adolescência convivendo – e às vezes sendo ignorada – por duas mulheres em momentos distintos da vida. Anne (Pascale Arbillot), a mãe, se estressa com a obra interminável da casa de praia coordenada pelo marido e esconde da família frequentes visitas ao médico. Joséphine (Alma Jodorowsky), a irmã mais velha, encontra um rapaz bonito na marina e não quer saber de outra coisa além de beijar e curtir o caso de verão. Julho-Agosto, dirigido e escrito por Diastème, trata do ser feminino a partir de duas vivências bem distintas que têm em comum o sangue e problemas.

    Dedicada ao mês de julho, que as garotas passam com a mãe e o padrasto, a primeira parte é solar, praiana e protagonizada por Laura, a inquieta do clã. Em interpretação cheia de energia, Luna consegue rechear as atitudes irritantes de Laura de boas intenções temperadas com afobação. Seu esforço em se passar por forte, descolada, autossuficiente, “grande”, é tão cômico que se torna impossível não concordar com a amiga de Joséphine que zoa a pequena sem dó e assim que ela se afasta assume: “adoro essa menina”. Mais ligada do que todos no que acontece ao seu redor, é ela quem desvenda segredos do padrasto, da mãe e da irmã e movimenta a trama falando mais do que deveria em momentos cruciais. Ocultando informações, Diastème faz o espectador se sentir na pele dela durante as descobertas e como suas “vítimas” em sequências mais delicadas, por exemplo os ataques por atenção ou contra o internato e a incômoda cena em que ela tenta seduzir um rapaz mais velho.

    Após muito perguntarem sobre o pai, as irmãs finalmente o encontram no mês de agosto, segunda parte da comédia dramática. O calor e as selfies de Laura dão lugar ao mangue da Bretanha e a tensão constante de Joséphine, colocada numa situação complicada pelo namorado (Jérémie Laheurte) e sua gangue. O cinza impera e a graça perde espaço para silêncios cúmplices. A trama é então prejudicada pela inconsistência dos assaltantes, tão medrosos e obedientes quanto absurdamente capazes de golpes geniais.

    Presente nos dois tempos, o mar é usado em analogia romântica – “o mar é como o amor, não pode se afobar” -, porém o sentimento que salta aos olhos não é o amor, mas justamente sua companheira insegurança. O pai que não sabe ficar com uma mulher mais jovem, a mãe preocupada com o que o ex-marido vai pensar, o editor com vergonha de seus problemas, o amor bandido, o medo da mudança de fase. Adultos preocupados com a imagem e adolescentes precisando de ajuda. A língua continua solta, mas a leveza de Laura faz falta na metade final do filme, exageradamente “policial”. Todos os personagens são mais interessantes do que o trio criminoso, assim como todos os relacionamentos se revelam mais atraentes do que o de Jose e Romain (Laheurte). A namorada do pai poderia aparecer mais.

    Em resumo é uma comédia dramática familiar agradável e nada marcante com atuações competentes em trama que poderia ser mais sutil na oposição de suas duas partes. Além das protagonistas, Julho-Agosto é aparentemente contado também pela trilha sonora original de Frederic Lo e Alex Beaupain (Canções de Amor). Algumas sequências são tão musicais que se aproximam de clipes, no entanto não tenho condições de analisar a contribuição das canções porque as letras francesas não foram traduzidas na legenda. Uma pena, faz falta.

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