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    Quando as Luzes se Apagam
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Quando as Luzes se Apagam

    Medo do invisível

    por Bruno Carmelo

    Este filme de terror parte de uma premissa muito interessante: um ser sobrenatural aparece apenas no escuro total. Ele ameaça uma família, no entanto, basta acender uma lâmpada para que desapareça. Mas como filmar a ausência de luz, sabendo que o cinema é, por definição, o registro de uma impressão luminosa? Como representar o invisível? Quando as Luzes se Apagam se sai muito bem na tarefa de brincar com a luz e a imagem, elementos essenciais do cinema. O monstro Diana (interpretado por Alicia Vela-Bailey) é visto com pequenas luzes ao fundo, em reflexos, de maneira indireta.

    O roteiro de Eric Heisserer também brinca com concepções alternativas de claro e escuro: mesmo um tiro de revólver produz uma pequena faísca, e todo quarto iluminado possui zonas obscuras - embaixo da cama, por exemplo... A história testa os limites da premissa de muitas maneiras, para que Diana se infiltre no lar dos protagonistas apesar das precauções. De repente, o espectador é levado a cogitar a impossibilidade da iluminação absoluta, o que gera a impressão de onipresença do mal: o monstro aparece sempre naquele pequeno canto esquecido da casa.

    Por mais sobrenatural que pareça, a ideia é ancorada num drama psicológico sólido. O pequeno Martin (Gabriel Bateman) sofre com a crise emocional da mãe (Maria Bello), que conversa com a presença obscura em sua casa. Ele descobre que a irmã mais velha, Rebecca (Teresa Palmer), passou pela mesma experiência quando o pai deixou a família. O filme transforma Diana numa materialização da depressão materna, como um fantasma dos traumas não resolvidos entre eles. Um psicanalista se divertiria bastante com as relações perversas entre os protagonistas.

    É uma pena que Diana não ganhe uma explicação tão plausível quanto aquela dos humanos. A presença obscura possui uma história de origem pontuada por incoerências, e introduzida na trama de modo artificial: os personagens simplesmente encontram caixas de papelão com todas as explicações de que precisam, ou então contam a história do monstro uns aos outros, para informar o público. Como tem certeza de estar criando o início de uma franquia, o diretor estreante David F. Sandberg toma o cuidado de explicar o passado do monstro com um didatismo quase infantil.

    Mesmo assim, Quando as Luzes se Apagam se destaca das produções médias de terror pela simplicidade e concisão. Os sustos derivam da mesma mecânica (Diana aparece na escuridão, e some à luz), mas não parecem repetitivos por se inserirem em momentos e tipos de iluminação diferentes. Os ataques da vilã também se intensificam rumo à conclusão. Assim, o ritmo se mantém tenso sem grandes reviravoltas, nem cenas sangrentas. É notável que Sandberg, James Wan e a equipe consigam produzir uma história tão assustadora com elementos reduzidos e orçamento limitadíssimo, apostando na criatividade da linguagem cinematográfica.

    A conclusão, infelizmente, recorre aos clichês obrigatórios do filme de terror comercial, com a necessidade de tornar visíveis alguns elementos que funcionavam muito bem na sugestão. O filme simplifica sua estrutura no terço final, embora ainda aposte em conclusões ousadas para alguns personagens. Com boas atuações de Teresa Palmer e Gabriel Bateman, o resultado funciona por acreditar, na maior parte da trama, no poder da sugestão ao invés da revelação, e nos medos de infância que todo espectador carrega consigo.

    Filme visto em pré-estreia em Los Angeles, a convite da Warner Bros. Brasil.

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    Comentários

    • Robin Grosse
      Perfeita a crítica... é um filme que se destaca entre os médios, mas não chega ao patamar de clássico de terror. É bem feito e divertido, não espere muito, mas não vai se decepcionar... pra mim foi uma grata surpresa no meio de um tanto de filmes ruins.
    • armando ribeiro
      Perfeita a sua crítica Bernardo... que bomba!!!!
    • Jackson Lovato
      A contar pelo tempo do filme.. 75 minutos já podemos ver que o roteirista não tem ideia o suficiente para escrever. A atuação dos atores também deixou muito a desejar, Teresa Palmer e Maria Bello com atuações lamentáveis, um motivo obvio pela atuação pífia são seus personagens interpretados. O único recurso utilizado no filme para assustar são os famosos clichês jump scares.
    • Boy
      Você tem toda razão,realmente não dá pra entender algumas pessoas,se assustam com tão pouco,e quando é algo realmente bom acham sem graça,ou como a colega disse aqui que dormiu durante invocação do mal,mas Jesse disse que não acredita em demonios e que tem medo de escuro e que deve ter sido por isso q achou melhor que invocação do mal,bem pelo o que me recordo do filme quando as luzes se apagam, em nenhum momento é dito o que realmente é aquela criatura,se é demonio ou qualquer outra coisa,então esse argumento não justifica,em qualquer filme de terror tem momentos em que tudo fica escuro,então é outra coisa q não justifica dormir durante invocação do mal...mas gosto é gosto né..não entendo também algumas pessoas mas respeito.
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