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    NN
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    NN

    CSI

    por Bruno Carmelo

    Um grupo de médicos legistas é encarregado de auxiliar investigações criminais. Eles analisam ossos e restos de roupa, tentando estabelecer a identidade das vítimas e as circunstâncias da morte. O líder (Paul Vega) é um homem sério, grisalho, culto e de moral incorruptível. Sua assistente (Isabel Gaona) é uma mulher um pouco mais nova, bela, com quem ele flerta ocasionalmente. Os assistentes são jovens, fazem piadas para descontrair o ambiente, até serem reprimidos pelo chefe rígido.

    Talvez você conheça essa estrutura narrativa pelos seriados televisivos CSI, Criminal Minds, Bones e derivados. Uma história muito semelhante ocorre no suspense peruano NN, sigla para “non nomine”, ou seja, corpos não identificados. As semelhanças com os programas de TV continuam: o chefe não tem vida familiar porque só se dedica ao trabalho, a assistente recusa o flerte com o patrão, mas ainda se mantém disponível, as reuniões entre o grupo para almoçar ou se divertir servem especialmente para proporcionar ao espectador novos diálogos explicativos sobre o caso em andamento. Acima de tudo, fala-se apenas da investigação, que começa com uma incógnita e termina com o esclarecimento dos fatos.

    Felizmente, embora o conteúdo formatado pela televisão, a estética é puramente cinematográfica. O diretor Héctor Gálvez faz um uso solene e elegante dos enquadramentos em widescreen, das luzes frias do Instituto Médico Legal e dos espaços vazios onde trabalham os personagens. Em termos de ritmo, NN é muito bem orquestrado, uma obra competente e agradável de se ver, com instrumentos de pesquisa mais realistas e menções à dificuldade de trabalho destes profissionais. Ao contrário do equivalente televisivo, o filme dá tempo aos protagonistas para terem dúvidas, refletirem, se arrependerem. Contra as máquinas de conhecimento e investigação express de CSI, NN traz humanos com falhas, um pouco mais aprofundados.

    Mesmo assim, é uma pena que a trama nunca contextualize essas mortes. Em que circunstâncias os corpos foram encontrados? Quantos corpos não identificados são encontrados por ano? Gálvez evita fazer comentários políticos ou sociais sobre as mortes, isolando os médicos do resto do mundo. As poucas referências a outros personagens (uma ligação para a filha que nunca aparece em cena, histórias sobre casos antigos contadas aos amigos) limitam-se a referências sonoras, em linguagem indireta, e não imagéticas. O cineasta prefere seguir um caminho linear e inevitável: nada deve atrapalhar a investigação.

    Pelo menos, o roteiro consegue concluir muito bem essa narrativa até então previsível e de poucos conflitos. A reviravolta final é consistente com o caminho apresentado, e funciona tão bem que poderia ser o ponto de partida do filme – seria ainda mais interessante descobrir como os personagens agiriam depois de uma ação tão controversa do chefe do grupo. Mas NN permanece uma obra de climas, marcada por uma beleza austera, pelas atuações sisudas e pelo conteúdo pouco reflexivo.

    Filme visto no 25º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, em junho de 2015.

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