De Volta ao Baile foge completamente dos cliches em relação a um "high school" estadunidense, com lideres de torcidas e jogadores de futebol; rei e rainhas do baile e várias características físicas do cenário que são comuns em diversos filmes americanos. O longa consegue trazer para o expectador a antagonia da sociedade antes da revolução dos celulares e das mídias sociais e da mesma escola nos dias atuais. É importante notar diversos aspectos que trazem um tom fábuloso de "moral da história" no final, como o que seria ser popular em 2002 – geralmente, ser superficial com cabelos bonitos, roupas bonitas, namorados bonitos, participar do grupo mais falado, cobiçado e "padrão"... porém naquele "mundinho" do ensino médio – e como seria ser tão popular quanto no ano de 2022, com o "boom" na mudança como nos comunicamos – ter mais seguidores, ter mais pautas sociais, ser mais democrático(mas nem tanto) e etc... porém agora em uma escala global com o instagram e o twitter, por exemplo.
Isso trás uma perspectiva de como estamos moldando nossa sociedade. Por um lado parece ser bom, pois há (ou parece haver) uma maior verticalidade em relação às hierarquias sociais dentro do ambiente escolar e mais pessoas parecem apoiarem causas sociais e ambientais que fazem diferença no mundo e na sociedade onde vivem – tendo uma maior sensibilidade com minorias sociais por meio de campanhas em prol da diversidade e a proibição do uso de certas palavras. Não obstante, a outra face da moeda parece exibir uma certa hipocrisia em relação às próprias pessoas que pregam verticalidade mas querem estar no topo, e um certo exagero de como uma escola de ensino médio deve ser organizada, por mais que eu particularmente concorde com ambientes mais confortáveis para os mais diversos tipos de pessoas.
Por fim, o filme trás uma lição sobre a mudança. As coisas mudam, as pessoas mudam, a sociedade muda. As relações mudam e precisam mudar, nada se mantém estático, muito menos a maneira como nos relacionamos uns com os outros. Assim, a superficialidade do mundinho escolar, os padrões e as comparações incessantes, não necessariamente mudaram tanto assim, mas atingiram uma maior escala e agora estão dentro dos nossos celulares.
Extra: Também gostaria de acrescentar duas coisas. A primeira seria a valiosa lição de que nada é perfeito, a vida não é esse mundinho no ensino médio e muito menos é um conto de fadas. Segundo, o longa foi muito felizardo em transpor a mudança nas questões de raça e gênero durante as décadas. O garoto popular não precisa mais ser o forte, alto e loiro capitão do time de futebol, ele pode ser um menino não-branco que dança com outros meninos no baile de formatura.