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    Operações Especiais
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Operações Especiais

    Vida de polícia

    por Francisco Russo

    Não tem jeito: seja pela importância histórica ou pelo impacto das imagens registradas pela televisão, a invasão do Complexo do Alemão pela polícia do Rio de Janeiro é um prato cheio para o cinema. Sob os mais diversos aspectos, do psicológico ao social. De olho na diversidade de gêneros, o diretor Tomás Portella (Qualquer Gato Vira-Lata e Isolados) resolveu explorar o tema em um filme de ação. Mais ainda: a partir da implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), abordou a sensível questão da honestidade da polícia e seu impacto perante a sociedade, além do papel da mulher dentro deste gigantesco mecanismo criado para, teoricamente, garantir a paz às comunidades. Esta é a ousada proposta do competente e didático Operações Especiais.

    O eixo central do longa-metragem gira em torno de Francis, uma jovem que trabalha em um hotel e, de olho na melhor remuneração e no status do cargo, presta concurso para a polícia. Aprovada, ela segue o treinamento necessário e logo é jogada aos leões, ao ser escalada para participar de um batalhão enviado para combater uma onda de crimes em uma fictícia cidade no interior do Rio de Janeiro. É lá que precisa lidar não apenas com o bullying de seus colegas de farda, que não acreditam na competência de uma mulher para o trabalho, como enfrentar seus próprios medos ao vivenciar situações de perigo real.

    Apenas nesta breve síntese, há duas abordagens bem interessantes trazidas pelo filme: a primeira é o fato de jovens recém-saídos do treinamento serem logo enviados para o fogo cruzado, sem um período adequado para a necessária ambientação às funções do cargo. Por mais que não haja qualquer análise política em torno do assunto, ele é trazido como um fato consumado e corriqueiro dentro da corporação. A segunda é o modo como a personagem de Cléo Pires é desenvolvida no roteiro, de forma a manter sua feminilidade mesmo em um ambiente tão masculino. É claro que, com o passar do tempo, pode-se notar um certo embrutecimento de Francis, mas ela jamais deixa de se portar como mulher - o que, por sinal, gera um punhado de situações que ora tentam fazer rir, como na gratuita piada envolvendo o salgado chamado joelho, ora servem para ressaltar ainda mais o contraste com os demais policiais. O melhor exemplo deste equilíbrio é a oportuna amizade formada entre Francis e Rosa, interpretada por Fabiula Nascimento, que rende bons momentos e, mais à frente, oferecerá um viés importante sobre se há um real interesse em que haja uma polícia honesta.

    O oportuno debate sobre se é possível (e se vale a pena) ter uma polícia honesta ganha corpo especialmente na segunda metade de Operações Especiais, através do melhor personagem do filme: o delegado Paulo Froes, de Marcos Caruso. Dono dos melhores diálogos do roteiro, ele é o baluarte da ética para o batalhão e, ao mesmo tempo, traz inúmeros comentários sarcásticos (e bem pontuais) sobre a realidade corrupta que o cerca. Entretanto, por mais que os questionamentos levantados sejam bem interessantes, o brilho maior do filme vem das ótimas cenas de ação. Filmadas em primeira pessoa, no melhor estilo videogame, elas trazem tensão ao espectador e ressaltam o estranhamento de Francis, ainda novata, em meio às tensões inerentes ao trabalho. Destaque para as sequências da perseguição de carro e a da favela, com um belíssimo plano que reúne o nervosismo do tiroteio e a movimentação dos bandidos pelas casas do morro, que serve como campo de batalha momentâneo.

    No fim das contas, pode-se dizer que Operações Especiais oferece um breve microcosmo do que é a atuação policial no Brasil e, em tempos de desilusão política, ainda levanta questões importantes sobre ética que têm muito a ver com a formação e as entranhas da sociedade brasileira. O elenco como um todo cumpre seu trabalho com competência, mesmo que haja um certo estranhamento de início pela postura de Cleo Pires no universo retratado, algo que será melhor desenvolvido mais à frente. Os problemas maiores ficam por conta do abuso em certas frases de efeito, no tom didático adotado e na desnecessária cena final rodada em Palmas. Por mais que seja compreensível que ela tenha rendido uma quantia importante para a conclusão do filme, a inserção da cidade na trama poderia ao menos ter sido feita de uma forma menos clichê. Ainda assim, trata-se de um bom filme que deixa o cenário em aberto para uma possível sequência. Histórias da vida real, como a invasão do Complexo do Alemão, são o que não falta.

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    Comentários

    • Agner Roncali
      Péssimo o filme.Na verdade, quando um roteirista, autor de filmes, quer fazer um retrato ele ao menos tem que ir ver como é a realidade, e quando falo realidade, nao digo aquela da tela dos jornais.Nao precisa ser um policial pra dar uma ida no quartel e ver como funcionam as coisas. Os brasileiros tambem ja estao cansados de assistir, inclusive no Netflix series que mostram o dia a dia das policias. Meu. Nao é dificil fazer uma pesquisa de campo nesse sentido. Em fim.A ideia central do filme é cumprir cartilha. Sentar o pau na policia e por ai vai. Na boa, onde tiver atores que tem contrato com globo e record, nao da. Os filmes serao focados em uma unica ideologia especifica e serao feitos para manipular opinioes...Eu assisti e na boa, que filme ruim!!!
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