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    Beira-Mar
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Beira-Mar

    O que querem os jovens?

    por Bruno Carmelo

    Na filmografia brasileira recente, a maioria dos filmes feitos para adolescentes e sobre adolescentes buscaram adotar um estilo pop, com cores vibrantes, muita trilha sonora e mensagem otimista. O cinema brasileiro já produziu bons títulos nesta verve, como Meu Tio Matou um Cara e As Melhores Coisas do Mundo. Mas obras recentes, como Beira-Mar, Depois da Chuva e Hoje Eu Quero Voltar Sozinho devolvem à juventude seu aspecto sério e introspectivo.

    Beira-Mar retrata a viagem dos jovens gaúchos Martin e Tomaz rumo ao litoral, para resolverem assuntos relativos a uma herança. Diversas informações são escondidas do espectador, como a relação dos garotos com seus pais e um com o outro. Mas aos poucos, os diretores Filipe Matzembacher e Marcio Reolon explicam o mínimo necessário para que esses personagens se tornem complexos, e sua jornada seja compreensível ao público.

    Ao invés de mostrar as ações da dupla, o filme prefere os instantes de silêncio, quando se sentam em uma praça vazia, ficam sozinhos na casa isolada ou presenciam o silêncio numa roda de amigos. Esta é uma história feita de desconfortos, de tempos truncados: são os momentos aparentemente banais que a dupla de cineastas busca transformar em instantes dignos de interesse.

    Em grande parte, a intenção é alcançada. Os diálogos reproduzem falas comuns a esta faixa etária, enquanto as posturas corporais desleixadas dos atores condizem com a direção naturalista. Os atores Mateus Almada e Mauricio José Barcellos parecem pouco experientes, mas esta expressividade crua se encaixa bem no projeto. Às vezes a fotografia insiste demais em brincadeiras com a profundidade de campo e com imagens através de reflexos, mas de modo geral, o conjunto transmite uma bem-vinda naturalidade.

    Do mesmo modo, o sexo é mostrado de maneira bela e respeitosa. Embora a idade dos personagens possa causar confusão – eles parecem pré-adolescentes em seus joguinhos caseiros, mas são adultos na atitude tranquila em relação ao sexo -, os diretores fazem questão de não ocultar a intimidade natural entre Martin e Tomaz. Determinadas cenas como a revelação da homossexualidade de um dos garotos ganham um clima descomplicado, mesmo que alguns instantes engraçados – o jogo de videogame filmado como possível masturbação – destoem do tom da obra.

    Ao buscar os tempos mortos e diálogos banais, Beira-Mar não evita o tom inerte em sua dramaturgia. Há uma constante sensação de que “nada acontece”, tanto em termos de conflitos narrativos quanto na ausência de tensão inerente às cenas. Os diálogos tornam-se retóricos, em frases como “Meu pai me batia / Devia ser foda / Pois é”, ou “Foi mal / Não tem problema / Beleza.” Os poucos temas abordados pelos personagens não se desenvolvem, o que desperta uma sensação de monotonia e linearidade voluntárias, mas excessivas.

    Mesmo assim, este drama parte da notável vontade de tratar a adolescência e a sexualidade a partir de uma combinação dosada de leveza e seriedade, de realismo e estetismo. Assim, Beira-Mar se apoia na beleza do cotidiano, na poesia dos dias simples e nublados.

    Filme visto no 65º festival de Berlim, em fevereiro de 2015.

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    Comentários

    • Tony Pacheco
      Não veja até o final. É um filme evangélico fazendo propaganda de uma adolescência sem sexo. Vivi no interior de Minas Gerais numa sociedade católica ao extremo e todo mundo começava a fazer sexo antes dos 10 anos de idade. Sexo de todo tipo, meninos com meninos, meninos com meninas, meninos com galinhas, porcas e vacas. Não este horror de sexo platônico doentio. Este filme é bizarro e trata de pessoas doentes e mal resolvidas. Precisam de psiquiatra, ambos os personagens. Tarja preta neles.
    • Tony Pacheco
      Não assistam a esta porcaria. Filme sem trama aberta ao público, personagens sem personalidade, adolescentes sem propósito. Parece um filme evangélico para que os adolescentes do mesmo sexo não façam sexo entre si. Um verdadeiro horror. O anti-sexo, o anti-cinema, o anti-clímax, tudo que de ruim pode ter um filme. Odiei profundamente.
    • Zelador
      Brokeback Mountain em Capão da Canoa.
    • Jheneffer
      Meu deus obrigada!!!
    • JMM
      Foi um filme que não gostei e não recomendaria pra ninguém, uma trama longa e sem uma proposta fixa. Assisti o filme em partes, porque simplesmente não tinha paciência para ver diálogos irrelevantes e sem desfecho aparentemente intermináveis. É tudo meio bobo e VAZIO. Trata-se de um filme que agrada um grupo de pessoas especifico: pacientes, poetas e calmas. Não captei a mensagem em momento algum (talvez até seja porque o filme não tem uma mensagem propriamente dita) e não consegui assistir o filme inteiro por se desenvolver em ambientes crus por muito tempo - o diretor fica batendo sempre em cima da mesma tecla.
    • ricardo
      Ate agora tento encontrar nexo no roteiro e n consigo encontrar. O filme fala de nada misturado com Deus sabe lá o que. Atuação estranha, os atores só olham pro chão o tempo inteiro. Os ritmos das cenas são todos iguais, não existe sequer uma variação de ritmo. A impressão que tive é todos os personagens estão em luto por alguem que acabou de morrer. Muita melancolia. Sexo longo e apelativo e um final que tambem não diz ao que veio. Fotografia no filme não existe.
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