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    Nervos de Aço
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Nervos de Aço

    A contradição de Lupe

    por Francisco Russo

    “Não é para explicar nada agora. É para revelar o conflito. Deixa a dúvida no ar.”

    A frase acima é dita pelo personagem Joel, interpretado pelo cantor Arrigo Barnabé, e sintetiza o espírito deste ousado longa-metragem dirigido pelo veterano Maurice Capovilla: montar um musical com as canções compostas por Lupicínio Rodrigues, em que os próprios músicos estrelam uma historieta envolvendo o espírito de tais canções. Mais ainda: diante da dificuldade de narrativa, os próprios atores dialogam com o público, explicando a estrutura do longa-metragem. Complexo, não?

    Complexo e confuso, é necessário dizer. A frase destacada no início deste texto se refere a um momento logo no começo do longa-metragem, em que canções e personagens se sucedem sem qualquer explicação sobre o que estão fazendo ali. No fundo esta metalinguagem, por assim dizer, serve mais para amenizar as falhas do roteiro do que como proposta de narrativa, diante das dificuldades enfrentadas para atender aos seus dois objetivos principais. É este o maior pecado do filme, pois se Nervos de Aço até funciona como veículo para relembrar as canções de Lupicínio – Lupe, para os íntimos -, fracassa feio na tentativa de discutir seus objetivos e replicá-los dramaturgicamente na tela.

    A história, ou o fiapo de história, gira em torno de Joel (o músico Arrigo Barnabé), diretor teatral responsável pela montagem do espetáculo. Ele tem um relacionamento com a cantora principal, Maria Rosa (Ana Lonardi), mas vive um momento de crise devido ao seu temperamento. Desta forma, ela se aproxima cada vez mais de outro cantor/músico do espetáculo, o jovem Carioca (Pedro Sol). A formação do triângulo amoroso tem muito a ver com as canções de Lupe, repletas de histórias sobre amores desfeitos. Além de replicar tal situação, Capovilla apresenta questionamentos pertinentes sobre os ideais contraditórios do compositor, que sempre coloca o homem como uma pessoa sincera e pura, cabendo às mulheres o papel de pecadora.

    Apesar de ser interessante como proposta, e pela apresentação das canções do compositor, Nervos de Aço apresenta fragilidades imensas de roteiro que, além da ausência de uma história a ser minimamente desenvolvida, ainda traz problemas técnicos decorrentes da fotografia, mal iluminada. Por mais que se queira trabalhar as sombras nos rostos dos atores, especialmente em Arrigo Barnabé, certas cenas pecam até mesmo pela ausência de nitidez, devido à opção adotada. Com diálogos rasos, que por vezes geram cenas constrangedoras (a no carro, envolvendo Joel e Carioca), o filme tem também como ponto fraco o elenco. Se o trio protagonista possui os dotes vocais exigidos para que as canções sejam executadas, falta a desenvoltura necessária para tornar os personagens ao menos convincentes.

    Filme visto no 22º Festival de Vitória, em setembro de 2015.

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