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    Histórias de Nossas Vidas
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Histórias de Nossas Vidas

    Em defesa dos direitos LGBT

    por Bruno Carmelo

    Este é um filme complicado de avaliar. Por um lado, ele apresenta as melhores intenções do mundo: trata-se de uma minúscula obra do Quênia, país sem tradição cinematográfica, feito por iniciativa de uma ONG que defende o direito da população LGBT neste país onde a homossexualidade e transexualidade são passíveis de prisão. Os curtas-metragens, baseados em fatos reais, são francos e sinceros, o que desperta a vontade de defender Stories of Our Lives com fervor.

    No caso, trata-se de cinco histórias de pouco mais de dez minutos cada uma. Elas revelam garotos e garotas (o foco é dado na população jovem) que sofrem preconceito no trabalho, na família e na escola. Geralmente existe um elemento opressor, um conflito interno do personagem, e a conclusão cômica ou otimista, encorajando os gays e lésbicas quenianos a não desistirem de ser felizes como são. A estrutura é didática, a mensagem tenta ser a mais clara possível.

    Mas não é possível ignorar os aspectos cinematográficos que, no caso, são muito fracos. O filme é feito com uma pequena câmera amadora, sem noção de enquadramentos, profundidade de campo, direção de fotografia, montagem. As atuações também estão distantes do nível profissional. Isto não surpreende para este filme que constitui, afinal, o exercício de um grupo militante para o qual o cinema é mais um veículo de informação do que uma linguagem artística.

    Surge então o desconforto diante desta sessão. Até que ponto pode-se “desculpar” a má qualidade técnica de um filme em função de suas boas intenções? Se um filme denunciar a pobreza de uma população, podemos ignorar sua montagem precária? O conteúdo é mais importante do que a forma? Esta é uma equação difícil de solucionar. O fato é que a importância de Stories of Our Lives encontra-se principalmente em sua própria existência, ou seja, no fato de constituir um panfleto em defesa da população LGBT. O modo como foi realizada, no caso, torna-se secundário.

    Esta qualidade extra-fílmica pode parecer inferior em um festival que preza pelo cinema de autor, como a Berlinale. Aqui, os traços autorais do cineasta Jim Chuchu são anônimos, impessoais. Mas se o engajamento político também é uma característica importante do festival de Berlim, então a presença desta obra se justifica por sua representatividade: é importante olhar para outras partes do mundo, saber o que pensam e de que maneira se expressam. Talvez Stories of Our Lives abra espaço para novos filmes no Quênia, ou contribua a uma política mais tolerante em relação às minorias sociais. O primeiro passo é permitir que a mensagem seja vista e ouvida pelo mundo.

    Filme visto no 65º festival de Berlim, em fevereiro de 2015.

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