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    Mistress America
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Mistress America

    A musa

    por Francisco Russo

    “Toda história é uma história de traição”. O alerta, que surge logo na primeira imagem de Mistress America, aponta o caminho a ser seguido por este novo longa-metragem de Noah Baumbach. Que, a bem da verdade, lembra bastante o sucesso cult Frances Ha - só que melhor desenvolvido.

    Senão, vejamos: além de ser também estrelado por Greta Gerwig e trazer a verborragia habitual do diretor, Mistress America gira em torno da “geração perdida” em torno dos 30 anos, aquela que tudo quer e nada consegue. Neste novo longa-metragem, Baumbach vai além ao cutucar o hábito cada vez mais comum de a tudo documentar e o quanto as mídias sociais são manipuladas de forma a transmitir uma realidade fictícia que, paradoxalmente, serve como autopromoção. O vazio decorrente desta situação, representado na personagem Brooke (Gerwig, em boa atuação), é o retrato preciso deste tipo de personalidade que, por mais que seja cultuado e sempre vibrante, pouco tem realmente a dizer. É como se sua existência pura e simplesmente bastasse, sem que o mundo ao redor lhe cobrasse algo além disto. Ou seja, uma musa.

    É com este ideal em mente que Baumbach e Gerwig (que também assina o roteiro) desenvolveram uma comédia calcada na figura de uma jovem adolescente perdida na vida – como tantas outras – que, repentinamente, encontra algum rumo ao conhecer sua musa inspiradora. Se por um lado a imediata amizade nascida entre as “quase irmãs” Tracy (Lola Kirke, ótima) e Brooke tem muito a ver com a carência da mais jovem e a necessidade de bajulação da mais velha, de forma bem estereotipada de lado a lado, é interessante notar como o mundo de ambas começa a ficar positivamente mais confuso (e mais complexo) a partir do momento em que os conceitos pré-definidos de cada uma vão por água abaixo. É também quando a parceria entre as atrizes embala de vez, já que ambas demonstram virtudes e defeitos inerentes a qualquer pessoa normal.

    Junta-se a isso os diálogos rápidos e bem humorados de Baumbach, repletos de uma ironia refinada, e um punhado de coadjuvantes que acrescentam à narrativa pelo inusitado que oferecem e o resultado é um filme divertido que, de certa forma, remete às comédias dos anos 1980. Seja pela intencional ambientação vintage, com vitrolas e figurinos descolados, pela trilha sonora alegre ou pela própria dinâmica de roteiro que favorece o humor a partir de situações que tem algo mais a dizer – Clube dos Cinco, lembra-se?

    Por mais que lembre Frances Ha na proposta e nos personagens retratados, Mistress America se sai melhor ao não ser tão condescendente com sua personagem principal e, também, por entregar uma história bem mais redonda. Destaque para Mamie-Claire, hilária personagem interpretada por Heather Lind, que brilha com seus comentários sempre sarcásticos e provocadores.

    Filme visto na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2015.

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