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    Os Irmãos Lobo
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Os Irmãos Lobo

    Os prazeres da reclusão

    por Bruno Carmelo

    Este documentário americano parte de uma premissa excepcional: sete irmãos adolescentes foram criados dentro de um apartamento, saindo pouquíssimas vezes de casa em suas vidas (em média uma ou duas vezes ao ano). Eles amadureceram entre quatro paredes, assistindo aos clássicos do cinema e interagindo apenas com o pai e a mãe, um casal movido por ideais hippies e por uma verdadeira fobia da violência urbana.

    Um dia, esta família que nunca recebeu visitas abre as portas à diretora Crystal Moselle. Como teria surgido esse privilégio? Ela observa atentamente a interação entre os rapazes (são seis garotos, e uma irmã mais nova), sua percepção curiosa do mundo ao redor, a relação passional com o cinema. Os personagens encenam trechos de Cães de Aluguel para as câmeras, vestem-se de super-heróis, preparam um jantar em homenagem à convidada. O conteúdo é curioso, atípico, e filmado com verdadeiro interesse pela cineasta.

    No entanto, Os Irmãos Lobo possui um problema grave: Moselle nunca vai além do que a família decide mostrar por conta própria. São os entrevistados que comandam a narrativa, e não a diretora, que nunca faz as perguntas essenciais neste contexto: Como sobrevive a família com nove pessoas, em um apartamento confortável de Manhattan, se ninguém trabalha? Qual é a relação com os vizinhos? Ninguém jamais reclamou da reclusão deles? Nas poucas vezes em que saíram de casa (cita-se uma emergência na casa, por exemplo), como ocorreu a saída? O que faz o pai modificar suas regras sobre a possibilidade de sair de casa, anos mais tarde? Como foi a puberdade dos seis adolescentes, presos no apartamento? Por que não filmar a única menina da casa?

    O espectador termina a sessão conhecendo muito pouco da ideologia extremista dos pais, além do possível sofrimento dos filhos. O documentário é condescendente com todos, sem estabelecer um ponto de vista ou uma reflexão a respeito do tema. Os Irmãos Lobo é limitado pelas barreiras deste cinema-vitrine, que observa o ambiente com curiosidade, mas com medo de intervir, e sem iniciativa para estabelecer uma investigação própria. De nada adianta ter diante de si um objeto de estudo singular se ele for observado de modo trivial, sem a análise de suas particularidades.

    Moselle, por fim, admira os garotos como se visse lobos em um zoológico, recusando-se a ultrapassar a linha de segurança para descobrir como eles realmente vivem. Resta a personalidade agradável dos adolescentes, o humor bem-vindo das recriações cinematográficas caseiras, o ineditismo do tema. Mas o documentário desperdiça a possibilidade ímpar uma análise sociológica aprofundada para se transformar numa espécie de feel good movie sobre o cárcere privado – algo que, em si, já constitui uma postura ética bastante questionável.

    Filme visto no Festival do Rio, em outubro de 2015.

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