Minha conta
    A Bruxa
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    A Bruxa

    Somos todos pecadores

    por Bruno Carmelo

    Na primeira imagem de A Bruxa, a família principal é apresentada de costas. Um tribunal acusa-os de heresia, expulsando pai, mãe e cinco crianças da comunidade. Estamos em pleno século XVII, na Nova Inglaterra, onde qualquer desvio da religiosidade padrão é interpretado como grave ameaça ao funcionamento social. Ou seja, a bruxa do título pode ser tanto a figura concreta da feiticeira quanto a metáfora do elemento dissonante, perseguido pela comunidade, como se diz na expressão “caça às bruxas”.

    A exclusão do núcleo familiar desencadeia os eventos assustadores do filme. O diretor e roteirista estreante Robert Eggers faz um ótimo trabalho ao associar religiosidade e misticismo, cristianismo e natureza. Por um lado, esta família de moral rígida acredita nas forças malignas que vivem na floresta, por outro lado, carrega em si a culpa típica da moral cristã: se a colheita de milho não dá certo, julgam-se punidos por algum pecado, se alguém desaparece, acreditam num castigo divino... Um dos fatores mais interessantes da narrativa é sua plausibilidade, já que a paranoia não provém de sustos ou sombras à noite, e sim de um fator essencial, a culpabilidade que os personagens carregam consigo desde o nascimento.

    Para contribuir ao clima sombrio, A Bruxa aposta na construção de efeitos analógicos, físicos, muito mais viscerais do que as criações digitais contemporâneas. O cineasta extrai medo do isolamento, da floresta fechada, da presença de bichos comuns, além de mostrar criatividade e ótimo senso de composição quando humanos e animais entram em conflito, na segunda metade da história. Após tantos filmes de terror com truques banais e aceleração dos eventos rumo ao final, é um alívio encontrar uma obra que sabe tomar seu tempo, construindo a tensão e a psicologia dos personagens com precisão cirúrgica.

    Além disso, a fotografia cuidadosa, usando velas dentro da casa principal e fontes de luz simples nos cenários noturnos externos, cria um belo efeito de solidão que remete à construção estética dos quadros renascentistas. Talvez a maior inteligência deste filme seja perceber como o terror depende da relação entre os personagens e os espaços, e como uma pequena sugestão pode ser muito mais potente do que litros de sangue jorrando em tela. O terço final, excelente, é uma prova disso: Eggers constrói um clímax complexo através de pouquíssimos elementos em cena. Como nos bons suspenses psicológicos, a fonte de conflito é essencialmente humana.

    Talvez o filme sofra com uma pequena lentidão no meio da narrativa, e a imagem final também soa explícita demais para quem trabalhava tão bem o poder da sugestão. Mesmo assim, A Bruxa surpreende por fugir dos clichês do gênero, extraindo terror de uma premissa verossímil, capaz de gerar identificação com o espectador. Eggers surpreende pela bela construção de imagens, a progressão madura do roteiro e a direção dos atores – são corajosas as duas fortíssimas cenas em plano-sequência, apostando inteiramente no talento dos atores mirins Anya Taylor-Joy e Harvey Scrimshaw. São elementos suficientes para despertar boas expectativas quanto aos próximos trabalhos do diretor.

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    • Marcelo C.
      Parabéns! Excelente crítica
    • Marcos
      Assiste de novo é um bom filme. O lance é que ele é meio histórico, meio terror atmosférico, se sua vibe aceitar algo mais Bruxa de Blair, vc vai curtir.
    • Paulo R.
      Terror bem psicológico, e um filme bem arrastado porem a história me intrigou bastante, o final achei bem fraco e até um pouco decepcionante, mas pelo bom desenrolar dou nota 6/10.
    • Carlos A
      Valeu pel sua critica, eu tava meio em duvida sobre a interpretação dos elementos sobrenaturais, embora ja imaginasse que eram coisas da cabeça dos personagens.
    • Carlos A
      Pra mim é de longe o melhor filme de terror que eu já assisti talvez acompanhado do Exorcista, não que isso seja necessariamente uma coisa boa, por que filmes de terror careçam de algo que de substancia ao susto e tenções vazias, Talvez esses dois filmes sendo exceção a regra . O que me deixou intrigado é se tudo não passou de uma ilusão e fantasias causadas pelo credo dos personagens ou se foi resultado de uma caçada real.Um filme bom e necessário para o gênero, mas no geral surpreende mais pela inovação do que pelo filme em si.
    • Josué Paiva
      O filme é uma porcaria sem sentido. Mesmo num filme de fantasia a fantasia tem que fazer sentido. O roteiro não faz sentido. Na história do menino que vai caçar e é pego pela bruxa talvez paralisado pelo medo, morre sem explicação. Aí começam a colocar o diabo na cabra, mas sem coerência e o final explica tudo através da fantasia. Que lixo!
    • Lucas Madruga
      Geração nutela que acha que terror se resume em jumpscares e humanos com 50 de QI
    • Diego Rodrigues
      Fotografia excelente, incrível imersão na mentalidade da época e consegue gerar uma certa tensão muito bem construída em quem está assistindo, mas coloca quase tudo a perder no fim do filme. Final raso e cheio de pontas soltas.
    • Francys Elvys
      Não gostei muito, faltou uma pegada maior.
    • Adriano
      Achei esse filme muito mais perturbador do que de terror...Durante algumas cenas, me fez lembrar do filme A VILA. Mas na realidade, ele é muito mais impactante.Para quem procura sustos e cenas horripilantes, não recomendo. Mas para quem gosta de coisas diferentes, esse é o filme !!!
    • Daniel Lúcio
      Não classificaria o filme como terror, achei muito mais um retrato histórico que uma ficção de suspense ou terror. Todos os fatos apresentados inclusive os sobrenaturais podem ser explicados levando em conta o contexto da época. Tendo isso em consideração, gostei muito do filme. Ótimos atores, ótima fotografia e imersão. Voltando ao passado me recordo do pessoal achando a Bruxa de Blair original uma maravilha da 7a arte, certamente mesmo com 20 anos de diferença é o mesmo público que achou esse filme ruim.
    • Kin Hwang
      UMA BOSTA ESSE FILME.
    • Ghost Orochi
      No quesito terror achei beeem fraco esse filme. Tava parecendo mais uma novela, cheio de dialogos, o filme tem mais dialogos do que terror essa é minha opinião. No momento que se inicia uma cena que parece interessante a camera já pula pra mostrar outra coisa, em vários momentos a tela fica preta e demora vários segundos pra voltar a mostrar o filme. Enfim, com relação ao terror achei bem fraco esse filme. Mas pra quem gosta de um terror bem leve, com muiitos dialogos parecendo novela deve gostar. Eu detesto filmes assim. Filme muito fraquinho pra mim, essa é minha opinião.
    • Fernando Sturt Silva
      mas no filme a bruxa é real ou não/
    • Fernando Sturt Silva
      rindo do seu comentário...Diabo nem existe...rs
    • Fernando Sturt Silva
      pode ser, parece mais drama do que terror...Mas psicose ou iluminado são de terror?
    • Fernando Sturt Silva
      o voo acabou com o filme, deveria ter acabado no caminha para a floresta....
    • Fernando Sturt Silva
      Mas quem rouba o bebe no início é quem, o bode ou uma outra bruxa?
    • Fernando Sturt Silva
      filmes também são feitos para pensar, esse é um. Estude a história do início da colonização dos EUA e verá muita coisa semelhante.
    • Fernando Sturt Silva
      do ponto de vista da fotografia, das cenas, do cenário, essas coisas que o pessoal de cinema entende, é filme bom. Mas a história não é ruim, gosto desse tipo de filme (os personagens isolados), com terror e suspense, ou não. Mas o final não curti muito.
    Back to Top