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    A Vida Privada dos Hipopótamos
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    A Vida Privada dos Hipopótamos

    Mais estranho que a ficção

    por Lucas Salgado

    O cinema de ficção nos oferece fantasias mirabolantes e filmes com super-heróis, aliens, robôs gigantescos e por aí vai. São ótimas válvulas de escape da realidade. Mas... Documentários como A Vida Privada dos Hipopótamos estão aí para nos mostrar que a realidade também tem suas bizarrices, contando uma história tão estranha e tão exótica que parece ser mentira. Neste sentido, a obra de Maíra Bühler e Matias Mariani lembra o excepcional documentário Tabloide, do cultuado Errol Morris. Nos dois casos, estamos diante de personagens fascinantes, que se tivessem sido escritos em uma obra de ficção poderiam ser considerados exagerados e falsos demais.

    A Vida Privada dos Hipopótamos conta a história de Chris Kirk, um jovem programador norte-americano que conhece uma mulher durante uma viagem pela Colômbia e acaba se apaixonando loucamente. Os dois vivem um romance por um tempo, com ele visitando a Colômbia e ela visitando os Estados Unidos. Nos dois casos, uma série de situações inusitadas coloca uma interrogação sobre a verdadeira natureza deles.

    Preso no Brasil por tráfico internacional de drogas, Chris conversa com os documentaristas de dentro da prisão, contando sua versão da história, que é repleta de contradições e situações pouco críveis. A amada, que é tratada apenas como V., não é entrevistada, mas tem presença importante em toda a história.

    Além de competentes no desenvolvimento da narrativa e na investigação dos fatos, os documentaristas Maíra Bühler e Matias Mariani também contaram um pouco com a sorte. Inicialmente, eles pretendiam fazer um documentário sobre presos estrangeiros no Brasil. Ao descobrirem Chris, perceberam que só sua história já renderia um filme.

    Diferentemente de Errol Morris, que tem uma abordagem sempre mais cínica, a dupla de diretores evita juízos de valores com relação ao seu protagonista, evitando jogadas de montagem e truques de roteiro. O que temos é uma câmera quase sempre parada que retrata as falas (e consequentes contradições) do sujeito.

    Bühler e Mariani também tiveram acesso a imagens do arquivo pessoal de Kirk e foram até os Estados Unidos para escutar parentes e amigos do sujeito, que é descrito como garoto tímido e inocente. Trata-se de uma obra complexa e aberta a diversas interpretações. Apenas uma coisa parece clara, é um filme sobre obsessão. Obcecado em sair da rotina, Chris vai para a Colômbia para visitar os hipopótamos do zoológico abandonado de Pablo Escobar. Lá, descobre nova obsessão, na figura da mulher. A vida criminar de Chris não é foco da produção, mas ajuda a construir essa realidade repleta de elementos da ficção.

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