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    Carrossel - O Filme
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Carrossel - O Filme

    Férias com lição de casa

    por Bruno Carmelo

    Carrossel - O Filme começa muito bem: no final das aulas, os amigos estão comemorando a chegada das férias. A cena inicial é ágil e divertida, fornecendo três informações importantes ao público: 1. As principais características de cada personagem (a inocência de Cirilo, a arrogância de Maria Joaquina, o espírito bagunceiro de Jaime), 2. O destino da viagem da turma, no caso, um acampamento de férias chamado Panapaná, 3. O motivo da ausência da professora Helena, supostamente afastada por uma gravidez – na verdade, a atriz Rosanne Mulholland se mudou para a rede Globo, não podendo participar da produção do SBT.

    As cenas de interação entre o elenco mirim são o ponto forte deste filme. Quando brincam na água, lutam na lama, preparam armadilhas uns para os outros e desenvolvem novas paixões, Carrossel se situa como verdadeiro filme de férias, mesclando com habilidade humor, aventura e uma parte de drama. As crianças do elenco são talentosas – com destaque para Nicholas Torres, Lucas Santos, Fernanda Concon e Stefany Vaz – e parecem se divertir com as cenas, mesmo que o roteiro ofereça aos personagens diálogos fracos e piadas esdrúxulas sobre flatulência e tropeços.

    O problema começa com a galeria de adultos. Diante de crianças realistas, foram incluídos personagens cartunescos e incoerentes: a desajeitada Graça (Márcia de Oliveira, a quem cabe reproduzir pela enésima vez o clichê incômodo do nordestino ignorante), o simpático dono do acampamento (Orival Pessini), que vê as crianças sendo gravemente machucadas, mas não se preocupa e prossegue com as brincadeiras, a estridente diretora Olívia (Noemi Gerbelli), que o roteiro não sabe como aproveitar após a chegada ao acampamento, e principalmente os vilões, Gonzales e Gonzalito.

    Estes dois personagens prejudicam bastante o andamento de Carrossel - O Filme. Apesar de a interação entre os alunos gerar conflitos suficientes (brigas, ciúmes, disputas esportivas), os roteiristas decidiram incluir as duas figuras que detestam crianças, evitam a natureza e pretendem trocar “todo o verde por concreto”, ou algo do tipo. Oscar Filho limita-se às caras e bocas, estabelecendo um personagem mudo na maior parte do tempo, até começar a falar de uma hora para outra, sem que isso surpreenda ninguém – em uma cópia desajeitada de uma cena dos Batutinhas. Paulo Miklos não faz o mínimo esforço vocal ou corporal para encarnar o inimigo malvadíssimo, e olha que o personagem não era exatamente muito difícil de interpretar. Talvez o maior problema seja a irrelevância de ambos para a trama: eles existem apenas para introduzir os valores da ecologia e da amizade.

    Estes são os dois principais temas defendidos pela narrativa, que pretende não apenas divertir, mas educar. O aspecto educativo incomoda por sua artificialidade narrativa – vide a cena em que o avô faz um discurso moralista sobre a importância do companheirismo – e artificialidade imagética – graças aos fracos efeitos especiais na criação de insetos e na cena do incêndio. O filme não acredita muito na inteligência de seu público-alvo, partindo do pressuposto que a amizade entre a turma precisa de uma lição bem di-dá-ti-ca para ser compreendida. Além disso, de nada vale tamanho esforço politicamente correto se Carrossel ainda aposta em piadas preconceituosas com nordestinos e gags racistas com o garoto negro Cirilo (cujos cabelos não mexem ao vento, ao contrário do cabelos dos colegas brancos).

    Se não fossem estes vícios e pretensões de roteiro, Carrossel - O Filme seria uma produção mais autêntica. Afinal, os atores mirins possuem recursos suficientes para despertar interesse e empatia do público. Mesmo assim, a produção possui um ritmo ágil, e traz todos os elementos esperados de uma adaptação cinematográfica da série: o romantismo de Laura, as brigas entre Cirilo e Maria Joaquina, e o tema sonoro (“Embarque nesse Carrossel...”), presente em dois momentos distintos. É um produto previsível, uma colagem de diversas produções de férias melhores do que esta. Mas funciona como veículo de sustentação para a marca Carrossel, tendo boa chance de seduzir pequenas multidões quando estrear nos cinemas.

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