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    Na Ventania
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Na Ventania

    Cinema e vaidade

    por Bruno Carmelo

    Convenhamos: era preciso ser muito ousado para fazer um projeto como este. São 87 minutos quase inteiramente ocupados por quadros vivos, com os atores imóveis em cena enquanto a câmera passeia pelo ambiente. Além disso, não existe som ambiente, a imagem opta pelo preto e branco, o som é preenchido por uma narração sussurrante em off. A intenção é trazer um aspecto poético à prática do nazismo nos países bálticos durante a Segunda Guerra Mundial.

    O resultado impressiona inicialmente pelo ritmo lânguido e pelas frases amorosas, extraídas das cartas de um casal separado durante o holocausto. As escolhas conferem ao projeto uma aparência de elegância, no bom e no mau sentido do termo. Por um lado, Na Ventania traz uma produção muito eficaz, por outro, aposta nos clichês estéticos dos filmes de arte, como o preto e branco excessivamente nítido, figurinos e cenários limpinhos e brilhosos, trilha triste de piano e violinos. Apesar da inovação dos quadros vivos, este é um cinema clássico no sentido mais gasto do termo.

    A novidade desaparece quando o espectador constata que o cineasta Martti Helde não pretende desenvolver esta estrutura. Os quadros vivos se sucedem e criam uma indicação de história, mas não adquirem novos tons ou movimentos. Depois de dez minutos, não surpreendem mais. A configuração dos atores imóveis tinha funcionado bem em O Moinho e a Cruz, pois o tema central era justamente o cruzamento entre cinema e artes plásticas, e também trazia momentos interessantes a Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência, por ser usado com distanciamento, através do humor. Na produção da Estônia, tem-se apenas o refinamento pelo refinamento, a arte pela arte.

    Com tamanha imobilidade dos personagens e do próprio discurso, o longa-metragem vai se despindo de sua humanidade, de sua potência, e adentrando uma perigosa monotonia. Este é um filme com atores, mas sem atuações, uma obra em que a plasticidade está claramente acima dos interesses humanos – algo mais que contestável num retrato da guerra. Assim como algumas histórias de favela brasileiras são acusadas de embelezar a miséria, Na Ventania poderia ser criticado por escolher o caminho da “alta cultura” (música clássica, fotografia clássica) para abordar o drama de pessoas pobres, deslocadas, marginais.

    Percebe-se, no fim das contas, que o único verdadeiro personagem nesta história é o próprio diretor, chamando atenção para si mesmo, para suas escolhas ousadas e sua maestria na condução da câmera. Este é um cinema vaidoso, que lembra os contorcionismos de Alejandro González Iñárritu, esbanjando domínio técnico. Mas neste filme, a atriz Laura Peterson tem ainda menos a fazer do que os grunhidos e cuspidas de Leonardo DiCaprio em O Regresso. Ela deve posar, sorrir em alguns momentos, fazer cara de tristeza em outros, como num luxuoso ensaio fotográfico inspirado na guerra.

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    Comentários

    • paulo antunes
      Boa, comentário raivoso do crítico. Não entendeu nada do filme. Fico em dúvida se entende de cinema e de arte! Desejar o repeteco de tantos outros filmes que já trataram mais ou menos bem da tragédia da guerra, dos holocaustos, da banalidade do mal comprova cada vez mais que cada vez menos precisamos de críticos de cinema assim. E, claro, foi muito incompetente ao informar o leitor que o filme trazia como problema central o nazismo. O outro holocausto, o soviético stalinista é que é o protagonista dessa narrativa. Parabéns pelo comentário José Bento Vasconcellos.
    • josé bento Vasconcellos
      Nazismo? faltou um pouco mais de pesquisa sobre o momento histórico a que o filme retrata... (afora a arrogância sobre o que é cinema ou não).
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