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    Numa Escola de Havana
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Numa Escola de Havana

    “Carrossel” do Bronx, do Capão Redondo, da Maré

    por Renato Hermsdorff

    A vida de Chala (Armando Valdes Freire), 11 anos, não é exatamente um mamão com açúcar. Filho de uma drogada, ele vende pombos e sujeita seus cachorros a brigar, para poder colocar comida na mesa de casa. Invocado, a única pessoa que ele respeita é Carmela (Alina Rodriguez), a professora das antigas que, no entanto, também tem seus problemas com a burocracia do sistema educacional de Cuba (que, a bem da verdade, poderia ser a realidade de qualquer país latino-americano).

    "Denso?", "Pesado?", "Chato?" Que nada! Numa Escola de Havana, apesar de não cortar o espinho, traz uma história acessível, ora poética, ora um tanto quanto piegas. Redondo na primeira metade, o filme perde ritmo na parte seguinte, mas a experiência é positiva e o maior mérito é o do jovem ator cubano Valdes Freire, o protagonista.

    Ele incorpora o personagem com um misto de malandragem e revolta, de uma forma tão realista, que fica difícil acreditar na idade/ maturidade do moleque. E não só. Todo o numeroso elenco infantil se sai muito bem – o que é fundamental para o bom andamento do filme –, quase melhor do que o núcleo dos adultos.

    Os meandros do sistema de ensino estão lá. Mas eles servem para dar suporte à história pessoal desse garoto e da professora velha de guerra. Nesse sentido, Numa Escola de Havana está mais para Os Incompreendidos (1959), o clássico de François Truffaut, do que para Entre os Muros da Escola, o filme-sensação do Festival de Cannes 2009.

    Há muitos riscos em se assumir uma história como essa. O do sentimentalismo (“coitado do menino”), do clichê social (“pobre de Cuba”), da polêmica política (“malditos comunistas” ou mesmo “isso sim é que é regime”). Não é de todos que o diretor Ernesto Daranas consegue escapar. Se, por um lado, o filme caminha no limite da novela, o que é acentuado sobretudo por uma trilha melosa e muito presente, por outro ele se posiciona em cima do muro a respeito do regime, o que se mostra acertado.

    Sem fazer nenhum juízo de valor, há na obra momentos/ argumentos que tanto podem ser tomados para a defesa de um sistema que governa a ilha há anos, e outros a favor dos que o criticam. Ou seja, o diretor, sabiamente, deixa a decisão para o espectador – e o melhor: dá munição para ambos os lados.

    Mas o que realmente interessa é saber o destino de Chala, Carmela e dessa turma do "Carrossel" do Bronx, do Capão Redondo, da Maré. Embarque.

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