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    O Grande Dia
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    O Grande Dia

    Filme de passar na escola

    por Taiani Mendes

    Ensinamento da hora: Nunca deixe de sonhar e se esforçar. Se você está em busca de histórias inspiradoras; crianças e adolescentes determinados; ter uma ideia de como vivem as pessoas em Cuba, Uganda, Índia e Mongólia; ou um suspense bem levinho e familiar, vai gostar muito de O Grande Dia. Pascal Plisson, o diretor, repete aqui a estrutura e o estilo de seu longa anterior, No Caminho Para a Escola, vencedor do prêmio César de melhor documentário em 2014. Novamente quatro jovens sem muitos recursos, moradores de diferentes países, são filmados em suas rotinas árduas e bastante diferentes entre si. Lá o desafio era a enorme distância percorrida por cada um entre escola e casa, enquanto dessa vez a iminência de um importante momento envolvendo o futuro profissional de cada é o ponto de convergência.

    Nidhi quer passar no concorrido processo seletivo de um colégio preparatório na Índia, Albert sonha se tornar boxeador em Cuba e disputar os Jogos Olímpicos, Deegii se prepara para fazer carreira como contorcionista (o que rende impressionantes cenas de dor e sofrimento) na Mongólia e Tom disputa uma vaga de guarda florestal em Uganda. Intercaladas, as histórias são apresentadas pelos próprios protagonistas e familiares, que encenam suas tramas. E por que afirmo que é encenação e não a verdade nua e crua? Pela decupagem dos planos. São muitos cortes, vários closes, nenhuma imperfeição, nada fora do lugar, o que seria impossível num documentário de ação não atuado. À parte as belas imagens que a manipulação proporciona, no entanto, a dramatização não chega a se justificar contribuindo de alguma forma para a narrativa. Nenhum dos personagens tinha experiência audiovisual e surpreendentemente quase ninguém olha para a câmera ou foge desesperadamente da mesma. “Dando um banho” nos adultos, em geral engessados, Deegii, Albert e Tom se saem bem, naturais dentro do possível – e do roteiro que não ajuda, em especial os diálogos, sofríveis. Nidhi, no entanto, volta e meia fala balançando a cabeça em negação, o que pode ser um tique nervoso, mas se assemelha mais à autossabotagem de contrariar em gesto o que está falando.

    Na preparação para o aguardado grande dia dos quatro, são mostradas as casas, cercanias e os relacionamentos próximos, de maneira superficial. É curioso como todas as famílias apoiam incondicionalmente e esbanjam otimismo, do tipo sem pressão. O mundo cor de rosa repetido quatro vezes soa inverossímil e desperdiça a abordagem de problemas nada raros como os pais que exigem demais dos filhos e os que não concordam e tentam frear seus sonhos. Preferindo ir pelo caminho menos sofrido, mais simples, Pascal joga o minguado conflito nos técnicos/treinadores, que nos quatro cantos do mundo adotam o mesmo estimulante, o velho choque de realidade em tom ameaçador: “Está muito ruim. Desse jeito você irá fracassar certamente...”. O ponto positivo é que ninguém chora, mas a opção pelo uso de emoções requentadas por outro lado também enfraquece as cenas de suposta euforia, que mal chegam perto de alegria normal. Às vezes reina a apatia, interrompida apenas pelos belos planos de estabelecimento, principalmente os do Parque Nacional Rainha Elizabeth - sempre acompanhados de trilha incidental bastante equivocada, que parece copiada de qualquer aventura Disney.

    A mensagem “não desistir” é transmitida com sucesso, mas é problemático que o coadjuvante, Roberto, que se coloca no papel de preparador do pequeno Rocky Balboa Albert, se mostre mais interessante do que metade dos protagonistas. Trocaria informações sobre o passado dele pelos resultados dos testes e isso não é culpa das crianças e adolescentes e sim do diretor e roteirista, que negligencia vários aspectos fundamentais do longa por estar preocupado em excesso com a produção de imagens muito bonitas, tão bonitas que quase distraem, fotografadas por Simon Watel.

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