Romance Policial: Crítica AdoroCinema

O texto é o mocinho de Romance Policial, novo longa do diretor Jorge Duran. E é também o vilão. Escrito pelo próprio Duran (vale lembrar que, parceiro profissional de Hector Babenco, ele é autor do roteiro de filmes importantes, como O Beijo da Mulher-Aranha e Pixote - A Lei do Mais Fraco), com a produção, o chileno radicado no Brasil volta ao seu país natal para retomar também um tema que tem ganhado cada vez mais importância na sua filmografia independente como diretor, a inquietude juvenil.

E, do assunto, o cineasta já havia mostrado domínio com Proibido Proibir (2006). Agora, ele posiciona seu personagem central na figura de Antônio (Daniel de Oliveira), um jovem escritor consumido pelo trabalho no funcionalismo público, que decide dar uma guinada na vida. A fim de escrever seu primeiro romance, ele se aventura pelo deserto do Atacama - e vale destacar a beleza das locações, centradas no povoado de San Pedro de Atacama, local cercado por vulcões.

Lá, ao se deparar com um cadáver, é evolvido em uma trama da qual fazem parte um policial (Alvaro Rudolphy, conhecido ator de telenovelas do Chile), uma índia (Roxana Campos) e uma bela garota (Daniela Ramirez, ótima), com quem acaba tendo um caso amoroso. Um elenco coeso que alcança boas performances.

“Aventuras têm um começo, mas o final nunca se sabe”, enuncia o protagonista logo no início do filme. Nesse caso, se sabe sim, ou, pelo menos, se desconfia. Se valendo da construção de um ótimo clima de mistério, apesar da primeira metade um tanto arrastada, o filme se destaca em comparação com recente produção do cinema nacional exatamente pelo caráter envolvente da narrativa.

Se a ideia de um um personagem cuja ficção se confunde com a própria realidade - Antônio se vê envolvido na própria prosa que escreve ou vice-versa - não é exatamente original, é bem conduzida, sobretudo quando ele tem opção de fugir, mas resolve pagar pra ver.

A trama é emaranhada de pouquinho em pouquinho, sem truques, para ser abruptamente desenrolada no fim. Se não surpreende, por um lado, pelo menos não engana o espectador com artifícios batidos de roteiro. A resolução, porém, explicada demais, tira o folêgo do filme. Mas o resultado final é um Romance Policial, sobretudo, honesto.