Dilemas, vivemos com eles, vários deles, todos os dias. E um deles seria: intervir ou não em certa cultura tribal para defender direitos humanos? Até porque os tais direitos foram criados por outra cultura, de outra tribo(a nossa).....Até onde é certo se intrometer, mesmo sendo costumes denominados por nós (pessoas suuuuuper civilizadas), violentos? Nossa sociedade acha que andar pelado nas ruas é atentado ao pudor, mas já a dos índio não. Mas ver alguém ser ferido, sofrendo e não fazer nada é inumano (é, eu sei, existem inúmeros deste tipo). Então, dilemas.....Que espetáculo este filme do diretor/roteirista Zeresenay Berhane Mehari que aborda isso. Ambientado na África (continente cheio de riquezas naturais e visto apenas como extração de recursos ou de pessoas), usar os hábitos de uma aldeia local e apresentar a história de uma pequena garota de 14 anos foram "ingredientes" fundamentais para colocar isso em xeque. Baseado em fatos reais (o que gera repulsa), Mehari tenta tocar nossa alma mostrando cada detalhe, se preocupando em que o espectador entenda cada sentimento da protagonista Hirut (muito bem interpretada pela atriz Tizita Hagere), principalmente quando ela vivencia os confortos da cidade grande e digo, ele consegue (pelo menos a minha, eitcha chororô o meu.....). A trama é bem conduzida e o assunto é sério, forte, comovente. Com ótimas atuações, o elenco envolve e convence. E a trilha sonora...ah, acho que tenho um pé nas terras africanas, uma vez que eu amo as músicas, é como se elas tivessem uma certa magia em cada acorde e tudo começou (o gosto pela música africana) com O REI LEÃO (1994). O enredo foca e muito bem em vários assuntos como tradições, estupro, ambição (no caso da advogada, personagem da atriz Meron Getnet, que enxerga no caso o ponto de partida para o sucesso e não, ela não tem nada a ver com a maquininha do Santander), solidariedade, vingança, machismo, diferença social. E o desfecho? Assim como a personagem de Hirut, um vazio pode te tomar por completo. Só uma cena de "perseguição" que ficou meia boca, mas não é o foco. Todo o contexto geral sobre o estupro, a jovem menina e o julgamento me lembrou muito o ótimo TEMPO DE MATAR de 1996 (se não assistiu, é bom assistir! Nesta película tem a melhor defesa que já vi em um tribunal.....como se eu fosse um frequentador assíduo destes eventos jurídicos, dã), mas arrisco em dizer que este aqui é bem melhor por ser mais complexo. Angelina Jolie (.....Brad Pitt sortudo!.....) acertou em produzir esta obra triste ao mesmo tempo que bonita e realista. É meu jovem, você que reclamava de à Igreja todo domingo, um ato de sua cultura religiosa (caso católico), existem coisas piores mundo afora e é incrível que, para conhecer outros mundos, não é necessário uma nave da NASA, apenas atravessar um oceano...