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    Carros 3
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Carros 3

    No piloto automático

    por Francisco Russo

    Se é inegável que a Pixar revolucionou a animação nas telonas, seja pelo lado estético ou mesmo graças à criatividade de suas histórias, fato é que, desde que foi adquirida pela Disney, a empresa tem investido mais e mais em sequências que, apesar de renderem muito dinheiro e até divertirem, pouco trouxeram de novo - Universidade Monstros e Procurando Dory estão aí como prova. Carros 3 é o mais recente exemplar desta linha, com o agravante de ter como antecessor um dos filmes mais contestados da Pixar, seja pela infantilização exagerada ou pela devoção implícita à indústria petrolífera. Entretanto, como a franquia se tornou um carro-chefe de vendas, produzir um novo longa-metragem tornou-se um caminho lógico, comercialmente falando. Esta é a única justificativa plausível para que mais esta sequência exista.

    Não que Carros 3 seja ruim, mas é tão genérico que chega a surpreender que traga a assinatura Pixar. Há no filme um cansaço que afeta não só a narrativa em torno de Relâmpago McQueen, agora ameaçado de aposentadoria precoce, mas todos os coadjuvantes à sua volta: nenhum deles tem um mínimo destaque, sendo que muitos poderiam simplesmente ser cortados da trama - se estão lá, é por mera nostalgia/conexão com os longas anteriores. É o caso de praticamente toda a população de Radiator Springs, inclusive o amigo para toda hora Mate. Tudo que gira em torno da bucólica cidade serve, apenas, como refúgio seguro para o protagonista, em suas dúvidas decorrentes da ânsia constante por superar os oponentes.

    Este, inclusive, é outro ponto contestável do longa-metragem. Por mais que pregue a importância de competir em detrimento do (alto) faturamento financeiro, McQueen está sempre obcecado em vencer - e não aceita sequer ficar em segundo lugar. Tamanha competitividade (e vaidade) vai de encontro à essência do esporte, por mais que tal questão seja maquiada pelo tom amigável do protagonista e o ambiente afável em que se encontra - completamente diferente do lado arrogante e depreciativo do rival Jackson Storm, apresentado logo em sua apresentação. Breves truques de roteiro, de forma a estabelecer de imediato quem é o herói e quem é o vilão, sem deixar qualquer dúvida ou possibilidade de reviravolta.

    Dito isso, Carros 3 tem sua base narrativa calcada no confronto entre o natural e o artificial, tendo por base questões de idade. Se McQueen representa o velho e aquele cujo dom foi lapidado através de treinos "à moda antiga", Storm é o novo criado em laboratório, a partir de equipamentos que aprimorem seus reflexos nas pistas - de certa forma, a competição entre eles lembra o duelo exibido em Rocky 4. A inevitável decadência física trazida pela idade também é considerada, assim como reflexos que a falta de confiança traz - isto tudo dentro de um universo povoado por carros de todo tipo, é sempre bom lembrar. Dentro deste contexto, o filme traz ainda um sem-número de termos automotivos adaptados para este cotidiano que, por mais que sejam curiosos aos aficcionados por carros, quase sempre soam gratuitos para a história como um todo.

    Bastante didático e esquemático, Carros 3 apenas obtém algum destaque quando, já em seu terço final e de forma inusitada, aborda o preconceito de gênero através da novata Cruz Ramirez - não por acaso, de minoria latina. Até lá, o filme se sustenta apenas na sempre competente animação produzida pela Pixar em uma trama que aborda a difícil decisão da aposentadoria para um esportista, sem jamais conseguir provocar qualquer emoção. O que se vê na telona é tão trivial, tão genérico, que é inevitável a sensação de mais do mesmo, em relação aos filmes anteriores da franquia.

    Pode até ser que Carros 3 atinja seus objetivos comerciais, mas está muito longe da excelência narrativa que consagrou a Pixar. O que se vê aqui é um filme preguiçoso, se aproveitando de personagens conhecidos para oferecer uma continuidade sem muita inspiração. Apenas razoável, muito pela abordagem final e o lado técnico da animação.

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    Comentários

    • Felipe Alves
      Quem foi fã desse filme desde a infância teve a mesma frustração que eu, ver o McQueen (que é o principal do filme) entregar a glória de graça pra uma personagem que nunca esteve nos filmes. Fiquei decepcionado demais com isso, esperava ver o McQueen mostrando a todos que se superou, mas no fim vi ele simplesmente desistir depois de se esforçar tanto. A mensagem do filme não deveria ser essa.
    • Felipe Alves
      Na verdade não é só pelo fato da Cruz ter vencido. McQueen é o personagem principal de um filme que foi marcante na infância de muitas crianças em TODO O MUNDO, inclusive a minha. E de repente, uma personagem que não teve nada a ver com o sucesso do filme chega e ganha a coroa assim de graça, sem mais nem menos. Fiquei totalmente decepcionado, não só pelo fato da corredora ter vencido, mas sim por que esperava ver o McQueen brilhar, que falava no filme diversas que não teria o mesmo final que todos tiveram, pra no fim desistir e acabar da mesma forma que eles. Ele poderia muito bem ter vencido e se consagrado, e aí sim, anunciar a sua aposentadoria e se tornar o treinador da Cruz. O que seria um filme sobre superar obstáculos aparentemente impossíveis, acabou sendo um filme sobre desistência.
    • Renato Vizioli
      Vi o filme ontem, mais de 2 anos depois do lançamento. Achei lindo, mas precisa entender que o foco é a homenagem ao DOC, dublado pelo Paul Newmn. Aliás, uma justa homenangem ao homem q fez tanto bem ao cinema, quanto ao automobilismo. Só achei q o Mate poderia ter maior participação. Achei melhor q o segundo, mas nada supera o primeiro.
    • Babidi
      Não sei de onde tiraram tantos defeitos na longa só porque uma mulher venceu uma corrida! Carros 3 é o melhor filme, não só as crianças gostaram como muita gente se sentiu representadas!
    • Babidi
      Que crítica mais sem noção... O filme é perfeito com uma excelente surpresa no final. Na época da estreia, levei meus 4 sobrinhos para assistir (todos fãs da franquia desde do 1º). Foi incrível, todos gostamos! vibramos muito quando a Cruz Ramirez venceu... Nota 1000 para o filme. Quem diz se o filme é bom ou não são as crianças, elas é que são o público alvo.
    • Shrek realista
      Mas o primeiro filme foi o único bom dos Carros.
    • Efraim Costa
      Carros 3 foi muito ruim, só foi um pouco melhor que o 2 (o que já era de se esperar). Mas tão ruim quanto o filme, foi a crítica desse Francisco Russo kkPois bem... Se é para fazer continuações com histórias tão desconexas umas das outras, espero que a Pixar para de fazer as sequências de Carros.
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