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    Zombillénium
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Zombillénium

    Parque dos monstros

    por Francisco Russo

    Imagine um parque de diversões formado apenas por seres do outro mundo, como vampiros, bruxas, múmias, zumbis e esqueletos. Mais ainda: seu dono é ninguém menos que o diabo em pessoa, que detesta a ideia dos monstros serem populares mas, em nome do lucro, segue em frente - metáfora escancarada sobre o capitalismo selvagem! Assim é a criativa animação francesa Zombillénium, que brinca com personagens tão conhecidos de forma a redimensioná-los em uma realidade bem diferente, e mais pop.

    A história inicia com um fiscal visitando o tal parque de diversões, em busca de possíveis irregularidades. Morto pelo próprio dono, ele logo se torna um de seus funcionários, deixando a filha órfã a cargo de uma escola em tempo integral. Inicia-se então uma jornada de autoconhecimento e das regras do próprio parque, de forma a encontrar o melhor meio de se (re)posicionar nesta nova realidade.

    É interessante analisar o quanto a obsessão em atrair o público jovem serviu de molde para o conceito por trás de Zombillénium. A começar pela escolha em confrontar os dois seres de maior popularidade do momento, zumbis e vampiros, graças ao sucesso de The Walking Dead - citada indiretamente através de um esperto trocadilho - e Crepúsculo. Sim, a inspiração maior para os sugadores de sangue não é a criada por Bram Stoker, mas a purpurinada e voltada para o público emo estabelecida pela saga escrita por Stephenie Meyer. Mas, se você integra o grupo que torce o nariz para a franquia, fique tranquilo: aqui, os vampiros são vilões e tais características trazem um certo tom sarcástico - por mais que, indiretamente, também sirvam de atrativo para os fãs escancarados.

    Há ainda outros truques habilmente inseridos no longa-metragem: o uso de uma trilha sonora rock'n'roll, personagens carismáticos e um punhado de sequências de ação bem executadas. Como pano de fundo, uma crítica às relações trabalhistas devido ao fato de todos os seres trabalharem como escravos e, ainda, um duelo interno em nome da popularidade. Ou seja, Zombillénium possui bases estruturais bem estabelecidas de forma a atrair a atenção de jovens e adultos. Só que falta um elemento importantíssimo: roteiro.

    Por mais que traga uma boa dose de criatividade, e um punhado de referências a produtos gerados em torno do universo sobrenatural, falta ao texto escrito pela dupla Alexis Ducord e Arthur de Pins - que também assina a direção - uma melhor ambientação para que tudo se encaixe de forma mais coesa. Por exemplo, tão logo Hector se torna um demônio, ele tenta fugir do parque em busca da filha. Já na sequência seguinte, lá está ele liderando um levante em busca da manutenção do mesmo parque o qual tentara fugir há pouquíssimo tempo. Falta ao filme um pano de fundo melhor elaborado, de forma a dar sustentação a tantos elementos criativos - e, também, a aproveitá-los melhor -, sem que sejam necessários tantos facilitadores de roteiro.

    Ainda assim, Zombillénium diverte. A partir de uma animação computadorizada bem executada, oferece ao espectador boas sequências musicais e de ação e, ainda, um subtexto interessante sobre as bases de sustentação do capitalismo - sem um maior aprofundamento, é bom deixar claro. Entretanto, fica o alerta: pela presença de vários tipos de monstros, talvez não seja adequado às crianças pequenas - os mais próximos à adolescência têm uma chance maior de curtir a animação, até mesmo pela possibilidade de reconhecer as diversas citações existentes.

    Filme visto no 70º Festival de Cannes, em maio de 2017.

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