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    Marighella
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Marighella

    Os verdadeiros patriotas

    por Bruno Carmelo

    Marighella se abre com os letreiros tradicionais de filmes históricos, destinados a explicar resumidamente o contexto em que vivia o deputado. No entanto, ao invés de uma apresentação neutra, o filme deixa muito clara a sua postura ao afirmar que o Brasil sofreu um golpe em 1964, com a tomada de poder pelos militares, ajudados pelo governo norte-americano, sob pretexto de prevenir o comunismo e permanecer por um tempo curto, até a situação se estabilizar. Ficaram, como se sabe, durante 21 anos. É relevante que o filme assuma seu posicionamento político desde as primeiras imagens. Ele jamais poderá ser acusado de ludibriar seu público, nem de dissimular uma posição ideológica. O ponto de vista de Wagner Moura é transparente.

    De mesmo modo, é evidente a tentativa de apresentar Carlos Marighella (Seu Jorge) ao público médio, que provavelmente ainda não o conheça, seja por deficiências do nosso sistema educativo ou por aversão política. O projeto não é pensado para cativar os intelectuais através do refinamento de sua linguagem, muito pelo contrário, dirige-se prioritariamente a um público jovem, que aprecia cenas de ação, tiroteio, perseguição policial, complôs internacionais e grandes figuras corajosas agindo contra a maioria, especialmente se forem divertidas e radicais como Marighella. O cinema brasileiro já abraçou heróis reacionários como Capitão Nascimento, agora uma figura verídica pretende ocupar este espaço no imaginário coletivo.

    Para tanto, o diretor utiliza uma linguagem palatável: a câmera tremida acompanhando os personagens nas ruas, muita música nacional, em versões hip hop, para comentar a miséria do povo sob a ditadura, uma reconstituição de época minuciosa, a presença de atores conhecidos e queridos (além de Seu Jorge, também Adriana Esteves, Bruno GagliassoHerson Capri etc.), a inclusão de grandes frases de efeito combinadas a tiradas cômicas e cenas violentas. Isso implica a criação de vilões realmente perversos (Bruno Gagliasso) em oposição a figuras puras e compreensivas (Adriana Esteves), além do uso de diálogos explicativos, e outros declamados em registro estranho à oralidade. Talvez essas falas não caibam na boca de pessoas ordinárias justamente porque foram criadas para servirem a ícones.

    Marighella adapta o gênero policial ao gosto da malandragem brasileira, criando, através de planos próximos no rosto expressivo de Seu Jorge, o retrato de um símbolo cujo valor transcende sua experiência individual para se tornar exemplo aos demais. Neste sentido, é louvável que o roteiro não o mostre como porta-voz único: Carlos Marighella constitui um entre uma dezena de personagens muito importantes na trama, e nem sempre toma as principais decisões, a exemplo do plano para sequestrar o embaixador norte-americano. O protagonista chega a desaparecer durante longos minutos enquanto o ponto de vista salta para a liderança de Branco (Luiz Carlos Vasconcelos), a investigação de Lúcio (Bruno Gagliasso), a vida do filho na Bahia ou as pressões exercidas pelo militar americano (Charles Paraventi).

    O filme busca estruturar, através de seus confrontos binários (uma montagem paralela expõe as diferenças entre capitalismo e comunismo), uma importante disputa de narrativas. Nos tempos em que historiadores e jornalistas de WhatsApp discutem se o nazismo foi de esquerda ou direita, se a Terra é redonda ou plana, Marighella contrapõe de forma clara os discursos de ambas as partes: enquanto os comunistas afirmam ter pego em armas para libertar a população do regime ditatorial, os militares dizem ter tomado o poder para salvar esta mesma população dos comunistas. Enquanto Lúcio afirma que a polícia age em nome do orgulho patriótico, personagens se referem ao guerrilheiro como aquele que “realmente amou o Brasil”. Ao final da trama, aliás, apenas um grupo estará cantando o Hino brasileiro a plenos pulmões.

    “Estamos perdendo essa guerra porque ela não está chegando ao povo”, analisa o protagonista a certa altura da trama. Seria necessário, portanto, driblar as mídias conservadoras e as censuras de Estado para que o público tenha consciência de uma realidade encoberta. A constatação de Marighella parece ser a mesma de Wagner Moura, ciente de que precisa equilibrar o discurso oficial com a sua própria versão dos fatos. Na busca corajosa e hercúlea de atingir tanto jovens sedentos por ação quanto adultos interessados pela História, de conquistar tanto a esquerda que verá um ícone quanto a direita que o verá morrer em cena – e que talvez assista à produção pelo prazer de detestá-la – o filme faz suas concessões, aparando algumas arestas e reforçando outras.

    Com seus erros e acertos, a trajetória de Marighella, e a trajetória do próprio filme, terão sido marcadas pela convicção inabalável na necessidade de lutar contra as forças opressoras, majoritárias e oficiais, de ontem e de hoje.

    Filme visto no 69º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2019.

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    Comentários

    • Jose
      Que ótimo! Quantos idiotas reunidos em uma só página, babando por um filme ridículo, de um personagem ridículo da história do Brasil. Quem dera existisse ainda uma polícia política, era só buscar cada um dessa lista de comentários e decer a borracha! Bando de gente sem conhecimento de história, acreditam em qualquer comunista que lhes satisfaçam a mediocridade.
    • Taro Kitano O Mito
      tem video ?
    • Taro Kitano O Mito
      so que o filme do mariguelta nao sao fatos veridicos
    • Taro Kitano O Mito
      ´provas?
    • Taro Kitano O Mito
      traduza o que e facismo?
    • Taro Kitano O Mito
      tropa de elitekkk
    • Taro Kitano O Mito
      tom cruise?
    • Marcia Passos
      Filme necessário. Marighella é um personagem ainda pouco conhecido ou mal conhecido.
    • Renné F.
      Depois de assistir entendi porque tentam até hoje, evitar que o filme chegue aos cinemas.
    • Jeane Bastos
      Quero muito assistir o filme, que agora está previsto apenas para Abril de 2021. Por enquanto estou me contentando com um documentário sobre ele, que aumentou mais minha admiração por ele e pelas pessoas que lutaram tanto para termos um país melhor!!! Pena que temos tantos analfabetos políticos que tentam criminalizar verdadeiros heróis e que hoje colocaram de volta nosso país nas mãos de fascistas e corruptos!!!
    • Marcos Lopes Ferreira
      Nos dois casos citados o dinheiro sai, compulsório ou opcional, de empresas privadas.
    • Marcos Lopes Ferreira
      Posso até imaginar em quem votaste.
    • TheEbojfm
      faz parte do cinema, romantizar e adaptar para enriquecer o enredo.
    • Ernande Valentin do Prado
      O filme estreiou? Eu quero muito ver, quando vai estreiar ou foi censurado pela ditadura que não existe?
    • mariana
      Amado, lê de novo o que você mandou e vamos analisar juntos:Na primeira, a contribuição vem do próprio mercado audiovisual. Na segunda, a contribuição vem dos impostos abatidos das EMPRESAS PRIVADAS que ESCOLHEM financiar um filme. A ANCINE é só um intermediário.E uai, agora imposto é dinheiro público justo? Cadê o pensamento liberal que pede a isenção de impostos? Liberdade para o empresário?E por último, o fomento cinematográfico existe no mundo inteiro. É claro que um blockbuster hollywoodiano lucra mais do que os filmes produzidos pelas indústrias dos outros países, não porque é o melhor tipo de filme, mas porque é um entretenimento fácil e óbvio para o cidadão médio.
    • Adauto Junior
      Há uma falha na crítica, que é exatamente a ausência de visão imparcial do filme. Não se trata de uma ficção, mas sim de uma apresentação real de um cidadão. Ao se retratar uma biografia, você retrata uma biografia, ainda que não possa fazer isso de forma 100% fidedigna, pois a equivalência integral é imprecisa. Contudo, Wagner Moura peca não pelo desconhecimento de certos fatos, mas por, de forma assumida por ele, inserir situações que ele mesmo achou que ficariam legais no filme, a exemplo de uma defesa (bandeira) da cor negra pelo Marighella, fato este não verídico e que não é parte da história dele. É direito de qualquer um fazer um filme sobre Marighella ou Ustra, mas dai a deturpar a história e inserir invenções que soam politicamente bem diante da população, isso acho falta de honestidade.
    • Nascimento M
      A criança deve ter lido a história do Brasil nos livros do Recruta Zero. Quanto ao filme e a história de MAriguela, desconhece completamente. O filme? nem veria, pois bozominions odeiam cultura. Entrou por aqui em busca de algum rocky balboa, duro de matar 37 ou marvel e deve ter digitado, tipo, marguel (pois eles escrevem como falam), aí apareceu o Mariguela, e demorou 50 horas e dois minutos para ler o texto. Parou na metade e xingou, no melhor estilo bozominiano....
    • Nascimento M
      Isso mesmo, entraram aqui procurando algum lançamento de Duro de Matar 39... mas como não conseguem digitar mais que 3 letras, partiram para a agressão. É o jeito bozominiano de ser...
    • Nascimento M
      A criança não viu o filme, não é verdade? E nem veria, pois voces odeiam cultura. Entrou por aqui em busca de algum rocky balboa ou marvel e deve ter digitado, tipo, marguel (pois eles escrevem como falam), aí apareceu o Mariguela, e demorou 50 horas e dois minutos para ler o texto. Parou na metade e xingou, no melhor estilo bozominiano....
    • Nascimento M
      A criança não viu o filme, porque não está passando nos cinemas. E nem veria, eles odeiam cultura. Entrou por aqui em busca de algum rocky balboa ou marvel e deve ter digitado, tipo, marguel (pois eles escrevem como falam), aí apareceu o Mariguela, e demorou 50 horas e dois minutos para ler o texto. Parou na metade e xingou, no melhor estilo bozominiano....
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