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    Caixa de Pássaros
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Caixa de Pássaros

    Apocalipse particular

    por Bruno Carmelo

    No início da trama, nossa protagonista está em estado de apatia. Recém-separada do marido, grávida de um bebê indesejado, pintando quadros sombrios que não são terminados, Malorie (Sandra Bullock) verbaliza a intenção de nunca mais sair do seu apartamento, porque se sente segura ali. Ela não é muito diferente do passarinho preso em uma gaiola - uma metáfora bem clara, e óbvia, do aprisionamento. A única coisa que a faria sair do estado quase catatônico seria uma tragédia de grandes proporções, e é exatamente isso que o roteiro lhe fornece. De repente, as pessoas começam a cometer suicídio em massa pelo mundo inteiro.

    A diretora Susanne Bier, acostumada aos melodramas, e o roteirista Eric Heisserer, um veterano dos filmes de terror, não se interessam muito à origem da epidemia. Espécie de filme de zumbis sem zumbis, Bird Box reproduz a lógica da contaminação repentina e espetacular, das mortes pelas ruas, do caos na sociedade, da busca por comida, água e tranquilidade num contexto pós-apocalíptico. As cenas de catástrofe são visualmente impactantes, ainda que curtas demais. De mesmo modo, os sobreviventes de uma casa vizinha deduzem com uma facilidade inverossímil que o perigo se encontra em olhar tal presença invisível (razão pela qual precisam vendar os olhos em espaços abertos), e não se preocupam em investigar a origem do problema.

    Filmes de contágio costumam dedicar um tempo considerável às causas da crise mundial e à restauração do problema - geralmente passando pela conciliação entre familiares, a união entre opostos, a superação de divergências e oposições. Este suspense, no entanto, não possui as mesmas pretensões. Malorie precisa salvar a si mesma e ao bebê, ponto final. Ela não se preocupa com familiares, com pessoas amadas, com o retorno da ordem. O roteiro se apropria de um subgênero tipicamente social para destitui-lo do aspecto comunitário e privilegiar a sobrevivência através do individualismo. É curioso perceber que os heróis corajosos são mortos, enquanto os egoístas conquistam a fuga.

    Focando-se na protagonista e nas crianças, o projeto acaba por justapor escolhas interessantes a recursos gastos. Por um lado, a ideia da claustrofobia a céu aberto, em paisagens belas e pacíficas - a dificuldade de remar com os olhos fechados, ou explorar uma floresta sem vê-la - provoca bons momentos de tensão, combinados com imagens subjetivas do olhar parcialmente bloqueado pelas vendas. Por outro lado, a trama abusa de clichês de fragilidade pessoal - vide a dupla gravidez com possibilidade de partos simultâneos, a necessidade de cuidar de criancinhas indefesas, a fácil traição de um dos membros do grupo devido à imprudência dos demais.

    Bird Box funciona como um bom exercício de gênero, marcado por imagens plasticamente interessantes da protagonista na natureza. É curioso, no entanto, que o roteiro se recuse a confrontá-la a perigos básicos como a fome, sede e frio. A montagem se atrapalha um tanto no despertar da epidemia (vide as imagens mal agenciadas da personagem de Sarah Paulson), mas em seguida, a alternância entre o passado e o presente constrói um quebra-cabeça diante do qual o espectador é convidado a completar as peças, uma por uma, para então descobrir o quadro inteiro. Por que Malorie está remando com as crianças? Onde estão os outros que a acompanhavam? De que servem, afinal, os pássaros? A narrativa responde calmamente a cada uma dessas respostas, esclarecendo-se por completo apenas no final.

    Os momentos mais fortes são aqueles em que se explora a dualidade entre segurança e liberdade: até que ponto você está disposto a abrir mão de sua liberdade para se sentir seguro? Você viveria preso num lugar, sem ter contato com outras pessoas, com os olhos constantemente vendados, ou se arriscaria pelas ruas, podendo ser morto? Muitas conversas entre a protagonista e Tom (Trevante Rhodes) investem nesta importante dicotomia - uma das mais questões essenciais dos nossos tempos, cuja contemporaneidade é acentuada por referências a Donald Trump (“Make the end of the world great again!”, brinca o personagem de John Malkovich). Os coadjuvantes são um tanto rasos, e isso inclui as crianças, excepcionalmente bem comportadas e desprovidas de traços de personalidade ou vontades próprias.

    Neste sentido, outra produção de gênero recente, que também privava os personagens de um de seus sentido, se saía muito melhor: em Um Lugar Silencioso, cada membro da família possuía uma personalidade e um ponto de vista distintos, além de investir em imagens devidamente catárticas para a canalização do conflito. No caso de Bird Box, as cenas mais explosivas ocorrem no início, cedendo espaço a uma tensão constante, porém linear e sem muitas válvulas de escape.

    Atenção: possíveis spoilers a seguir!

    A carinhosa conclusão privilegia o drama ao terror, e prefere enxergar o resto da humanidade com um pouco de otimismo. Talvez não se trate do recurso mais original, e a solução tampouco sugere alguma melhoria no futuro mundial, mas estamos falando de um projeto individualista, certo? Quando Malorie se acalma, o filme se acalma também, e não vê necessidade de seguir adiante. A direção transforma uma catástrofe global num evento íntimo, um impulso para a mulher triste superar seu trauma, se reconciliar com o instinto materno e encontrar a felicidade. Talvez alguns bilhões de seres humanos sejam sacrificados pelo caminho, mas não se faz uma limonada sem espremer alguns limões, certo? Pelo sorriso final de Sandra Bullock e pela sensação de paz explorados pelo enquadramento e pelo som, o martírio valeu a pena.

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    Comentários

    • kuka beludo
      2 hrs de enrolação pra ver alguns periquitos serem soltos no paraíso dos cegos. Em 2 hrs de filme não conseguiram explicar a origem, a causa, a solução definitiva e nem realmente o que era. A palavra perfeita para descrever esse filme é: MODINHA.Há um outro filme com esta temática, MAS MILHÕES DE VEZES SUPERIOR, chamado Um lugar silencioso (a quiet place). Este é bom.Bird Box é enrolação para pseudo intelectuais.
    • Rodrigo Veiga
      Interessante ler os comentários dos internautas a respeito do filme, não farei julgamentos intelectuais, mas os relatos evidenciam que muitos telespectadores perderam várias camadas de um filme profundo e repleto de nuances, isso foi causado por um simples motivo, pessoas que vivem na superfície só enxergam o reflexo do raso.
    • Vilma Roussef
      Minha periquita aguenta mais rojão. A bicha tá calejada.
    • jordi
      você é burro
    • Daniela B
      No início parecia um filme normal, sem muita expectativa, todavia, no decorrer do filme o sentido real da trama foi se mostrando clara. A minha leitura é de que as sombras eram os pensamentos e dores mais profundas que cada pessoa carrega, até aquelas pessoas que aparentemente são felizes possuem dores pessoais, insatisfações, enfim..., e que deixam guardadas dentro de si. As sombras são os monstros que alimentamos durante nossa vida inteira. Discordo do fato de todos que olhassem para as sombras sentirem vontade de se suicidar, pois nem todos têm tendências suicidas. Por mais difícil que seja acreditar nisso, existem pessoas felizes de verdade. O medo de que as crianças olhassem para as sombras, é como se quisesse evitar que as mesmas se deixassem levar por desejos suicidas, o que o autor do filme não percebeu é que com essa redoma criada ao redor das crianças, as transformou em personagens inertes, vazios, sem emoção alguma, consequentemente, as crianças não passaram a imagem de esperança (na minha opinião), ao contrário, passaram a sensação de serem miniaturas da protagonista, beirando à loucura. O foco do filme ficou indefinido, principalmente no final, em que eles chegam em uma Escola de Cegos. O que isso quer dizer? Confesso que essa metáfora eu não entendi.
    • Daniela B
      Hahahaha! Pensei a mesma coisa! Aquilo é que foi foda!
    • Beatriz Fernandes
      Melhor explicação do filme BIRD BOX que vi até agora.As criaturas de Bird Box simbolizam a depressão. As crianças simbolizam a esperança. Os pássaros simbolizam os momentos felizes e as lembranças que deveriam ser protegidas e que ajudavam nos momentos críticos. Os fugitivos que não usavam vendas simbolizam as pessoas que apreciam a morte.Todas as pessoas que estavam na casa, passavam por momentos difíceis e ligados à depressão. Uma gravidez indesejada, a morte recente da esposa ou do marido, o nerd rejeitado, a mulher com falta de amor próprio que está sempre em busca de agradar os outros.Todos estavam em algum momento crítico, mas tentando se recuperar. No entanto, as sombras, que simbolizam a depressão, vinham atentar os pensamentos para o suicídio.Então, por fim, nos são apresentados os cegos, e esses seriam as pessoas que aprenderam a lidar com a depressão e entenderam que apesar das dificuldades, os pássaros sempre iriam ajudar.
    • Alexandre Silva
      Patético, creio que a única coisa que poderia ter dado mais emoção ao filme seria uma busca ainda que inútil, por descobrir a causa do problema, o único personagem que se propôs a fazer isso Charlie foi tirado de cena logo de cara, ele supõe que a tal entidade era a mesma entidade descrita em diversas culturas vamos a eles: Aka Manah, Surgat, Huli Junga ou Pacú. Todos eles com a mesma característica em comum : Aterrorizar as pessoas ou induzir elas a cometer erros e fazerem coisas ruins, pensa em demônios...e no quanto isso poderia ter dado emoção ao filme. Os erros, os vícios, e o fato de terem minimizado uma catástrofe mundial, que mudaria história da raça humana em um drama pessoal da protagonista por si só já destrói o filme sem carecer de críticas e apontamentos das dezenas de erros amadores que ele traz. Sabem a unica coisa que o filme trouxe de bom? Uma ironia: HUMANOS EM ''GAIOLAS''' E PÁSSAROS LIVRES.
    • Wendel Ribeiro
      Filme muito bom, Vale a pena assistir, eu recomendo que assistam durante a noite, é bem melhor
    • Wendel Ribeiro
      Na minha Opinião o Filme é Ótimo, vale a pena a assistir, só queria que estivesse alguma imagem para cada pessoa que olhasse
    • Erick F
      Realmente acho que faltou muito a explicar sobre esse filme, achei fraco demais.2 h e não foi possível descobrir a causa do problema nem muito menos a origem. Aparecem pessoas que podem andar sem venda e mesmo assim não se suicidam. Fim foi tosco, com pessoas vivendo isoladas mas eu fiquei sem entender de onde vem os recursos para sua sobrevivência, tais como água luz e mantimentos para tantos. RidículoPerdi meu tempo
    • Marcus Vinicius N.
      Figurinha repetitiva de livro... Pouco mais de 2 horas de filme que já havia um final já desenhado... Agradará os leitores de livro de suspense...
    • Biladeiro Mestre
      Discordo sobre ser egoísta. Poxa, ela voltou pra casa após o mercado! Pensou na filha da outra, isso é ser egoísta?! Vocês estão sendo injustos nessa afirmativa!
    • Biladeiro Mestre
      Discordo da parte que ela tava foda-se para outras pessoas, familiares e só pensava nela. Então porque raios ela voltou pra casa após o mercado (Onde lá se tinha suprimentos, locações seguras tanto quanto a casa) para ajudar quem estava lá? Falou merda aí.
    • ronaldo
      vc viu o filme até o fim? se viu pq vc tb é um idiota!
    • ronaldo
      sempre tem um zé droguinha querendo aparecer!
    • Rosemeire R.
      Só achei estranho ela gravida naturalmente aos 54 anos...proeza
    • Milena Ferreira dos Santos
      Ai não, o final ficou otimo como acabou mesmo kk
    • Ana Cláudia Silva
      Bird box excelentre drama dos periquitos q ficam por semanas em 1 gaiola sem alpiste depois fazem boia cros e nadam por uma enorme correnteza sobrevivendo horrores para serem soltos no paraiso...nao percam esse espetaculo da superacao periquitiana
    • anderson abreu
      porcaria de filme, filme feito para idiotas.
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