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    Flores
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Flores

    O problema das flores

    por Bruno Carmelo

    De acordo com a sinopse oficial deste drama basco, Loreak traz a história de três mulheres cuja vida se transforma após acidentes (ou incidentes) ligados à presença de flores. A premissa é curiosa, e os motivos florais que ocupam todo o belo cartaz do filme sugerem uma espécie de obsessão simbólica. O que as flores podem representar?

    A primeira história gira em torno de Ane (Nagore Aranburu), mulher em crise de meia-idade. No mesmo dia em que descobre uma menopausa precoce, começa a receber flores de um anônimo em sua casa. A montagem acelera o ritmo de modo surpreendente: em menos de cinco minutos de narrativa, ela já recebeu dezenas de arranjos, que se tornaram um símbolo de dependência emocional para ela, e de ciúme para o marido.

    De certo modo, esta subtrama lembra o famoso conto “Amor”, de Clarice Linspector, onde outra dona de casa aborrecida – também chamada Ana – tinha um pequeno encontro fortuito que mudava a sua vida. Mas as lentas e íntimas transformações da personagem literária se perdem em sua análoga cinematográfica, já que a evolução interna de Ane é soterrada pelas elipses e pela narrativa apressada. Ela viu as flores e apaixonou-se pelo anônimo, como do dia para a noite.

    Depois de um início tão veloz, a história desacelera ao apresentar as duas outras mulheres. Uma tragédia conecta o trio, que nutre afeto pelo mesmo homem. Logo, as flores como símbolo do amor transformam-se em índice de luto, enquanto elas são obrigadas a conviver com o ciúme, a inveja, as dúvidas sobre a fidelidade do falecido. Neste momento, Loreak adentra o terreno do melodrama um tanto açucarado, com direito a violino triste e uma incômoda chantagem emocional (a repetição da imagem do cadáver, a deterioração da mãe da vítima ao longo dos anos). Enquanto isso, as atrizes parecem instruídas a atuar um grau acima do realismo, recheando cada momento de silêncio com tiques ou expressões teatrais de dor.

    Os diretores Jon Garaño e José Mari Goenaga oferecem um olhar atencioso às mulheres, embora evitem mergulhar na psicologia delas – algo fundamental numa representação imagética do luto. As protagonistas são resumidas aos atos (comprar as flores, olhar as flores, jogar as flores no lixo) sem outras alegorias poéticas. Ao mesmo tempo em que correm o risco de esgotar a sua metáfora floral, os diretores nunca revelam realmente quem são essas pessoas, qual é o seu passado, os seus anseios, as suas crises.

    O grande trunfo de Loreak é a direção de fotografia, que parece contar uma história diferente do roteiro. A iluminação é belíssima, repleta de tons suaves e bem trabalhados em luz natural. Com seus zooms delicados e uso expressivo do widescreen, os enquadramentos tentam extrair o máximo destas três mulheres que Garaño e Goenaga evitam desvendar. Se os diretores se concentrassem nos pequenos gestos, e se a montagem não ocultasse em elipses as transformações mais importantes das mulheres, Loreak poderia tirar um bom partido de sua premissa. Mas o resultado final foi uma história arrastada, tão visualmente atraente quanto psicologicamente superficial.

    Filme visto no 25º Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema, em junho de 2015.

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