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    Retorno a Ítaca
    Média
    3,1
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    Vikingbyheart
    Vikingbyheart

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    4,5
    Enviada em 30 de junho de 2016
    Cuba é um país que sempre despertou muita curiosidade e interesse das pessoas, seja por suas praias espetaculares ou por sua cultura e história bem peculiares. Na metade do século XX a ilha, localizada no mar do Caribe, sofreu uma revolução que viria a mudar os rumos da América Latina, instaurando e vivendo o regime socialista desde então. Assim, nada mais natural do que a vontade de conhecer um pouco da realidade dos cubanos. E é exatamente isso que o filme Retour à Ithaque (no original) ou Retorno a Ítaca (em português) proporciona: compreender o estado de espírito da população local. O diretor é o francês Laurent Cantet, conhecido pelo renomado Entre les Murs (Entre os Muros da Escola - 2008).

    A história se passa no terraço de um prédio à beira-mar em Havana, onde cinco amigos da juventude, Rafa (Fernando Hechevarria), Tanía (Isabel Santos), Aldo (Pedro Julio Díaz Ferran) e Eddy (Jorge Perugorría), agora na meia idade, se reúnem para festejar o retorno de um deles, Amadeo (Néstor Jiménez), que morava na Espanha há 16 anos. Seu regresso desperta vários sentimentos latentes no grupo: amores perdidos, nostalgias, frustrações, culpa e confrontos. Nesse período de menos de 24 horas, entre o início da tarde e o amanhecer do dia seguinte, seus destinos, os desafios do passado e do presente vêm à tona.

    O embargo econômico imposto pelo governo americano à Cuba trouxe graves consequências ao país caribenho. O período mais duro que a ilha conheceu foi o pós-queda do muro de Berlim, na década de 1990, com o fim da União Soviética. A dissolução do principal parceiro comercial de Cuba provocou uma grave crise no modelo cubano, impactando sobremaneira no modo de vida de seus habitantes. Foi nesse período que o protagonista da história, Amadeo, deixou o país para ir morar na Espanha. Essa dualidade provocada por permanecer na ilha ou sair dela fica explícita na atitude de cada um dos personagens da história. E aqui somos introduzidos ao sexto integrante da trama: a cidade de Havana.

    A panorâmica a partir de um terraço de um prédio do centro velho da capital cubana reveste a fotografia do longa com cada um dos seus atributos mais importantes: as pessoas que vivem as suas vidas pequenas, prédios decadentes que resistem ao tempo, carregando o peso da história remota e recente, o Malecón, um calçadão de concreto que corre ao longo da orla da cidade, constituindo a barreira física e psicológica onde começam e terminam sonhos e possibilidades de tantos cubanos, e o mar, como promessa e desafio, a fronteira que divide a ilha do resto do mundo.

    A direção de Cantet produz uma disposição cinematográfica extremamente viva, de rara autenticidade e realidade das cenas. As discussões são assustadoramente críveis, repletas de traços documentais, com a câmera circulando na intimidade dos personagens. O roteiro, escrito a quatro mãos pelo próprio Laurent Cantet e também por Leonardo Padura (autor cubano que ganhou notoriedade com o livro O Homem que Amava os Cachorros), contribui para que a narrativa dramática, filmada em uma só locação, funcione. A história é envolvente, coesa e bem redigida. Em entrevista ao jornal El País, Padura conta que se inspirou no episódio de um dos seus romances, La Novela de mi Vida, para compor o conto. Os atores, todos cubanos, entregaram atuações convincentes aos seus papéis. Com personagens melancólicos e de cicatrizes abertas, eles sentem, ao mesmo tempo, atração e repulsa pela ilha, sonho e descrença.

    Retorno a Ítaca é um filme que pode muito bem retratar o Brasil atual, que flertou perigosamente com o fascismo/socialismo/populismo nas últimas décadas e agora se vê assolado no caos social/econômico/político. A população brasileira, assim como a cubana, depois de ter vivido um momento de boom em que tudo parecia dar certo e em que a nação finalmente parecia caminhar para ser o "país do futuro", se vê enganada por falsas promessas e percebe que tudo não passou de uma utopia. O país (modelo) a ser copiado, a fé inabalável das pessoas no "salvador" da pátria e a alegria do povo são algumas das analogias que podem ser traçadas entre os dois países. Em meio a tudo isso, tanto no Brasil quanto em Cuba, está a desilusão, os sonhos abandonados e a vida amarga que milhões de pessoas foram condenadas. Retorno a Ítaca conta a história de cinco amigos cubanos que viveram, ou melhor, sobreviveram em Havana durante a pior crise de Cuba, o que poderia muito bem ser o relato de cinco brasileiros na pior crise da história do Brasil.
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