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    O Brasil Deu Certo. E Agora?
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    O Brasil Deu Certo. E Agora?

    Às margens da história

    por Lucas Salgado

    O Brasil Deu Certo. E Agora? é mais do que um título. Trata-se de uma afirmação seguida de um questionamento. O problema é que, aparentemente, os responsáveis pela definição do título fizeram sua escolha tendo em vista apenas o joguinho de palavras e não o tema deste documentário, que não dá elementos para dizer porque o Brasil deu certo e também não reflete de forma eficaz sobre o que deve ser feito.

    O documentário tem um peso eminentemente econômico, até porque seu argumento foi desenvolvido pelo ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, que também é um dos principais entrevistados da produção. Na verdade, ele é meio que o condutor da "história", oferecendo até, de forma absurda e didática, uma visita ao passado do Brasil.

    Não seria surpresa nenhuma descobrir que o filme foi baseado em uma monografia de graduação. Sim, numa monografia, porque é superficial de mais para ter como origem uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado.

    O longa tem como mérito reunir entrevistados respeitados, que incluem três ex-presidentes da República, 12 ex-ministros de Estado, sete ex-presidentes do Banco Central e diversos especialistas. Infelizmente, por mais informações que ofereça, o documentário percorre sua duração de forma vazia. Muito é dito, pouco é guardado. 

    Os entrevistados dizem o que querem de forma desconexa, tirando qualquer resquício de continuidade narrativa. Vemos, no entanto, depoimentos absurdos dados sem nenhum tipo de contraditório. Se tiver interesse (e paciência) de assistir ao filme, você se deparará com noções de que Juscelino Kubitschek foi o pai da inflação no Brasil, de que a ditadura militar foi um período de prosperidade no país e de que quase tudo por aqui deu errado, menos o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ah... você também ouvirá menções ao ato de coragem de Fernando Collor de Mello em confiscar o dinheiro da população. 

    Collor e FHC, inclusive, são dois dos três presidentes a falarem com a diretora e produtora Louise Sottomaior. O outro foi José Sarney. O próprio filme deixa claro que Lula e Dilma Rousseff foram convidados, mas recusaram participar, o que não é uma grande surpresa diante do posicionamento político da produção.

    Na verdade, não é correto dizer que o longa é de direita ou de esquerda, mas é inegável que possui altas doses de um reacionarismo que esquece o passado distante (fala com todas as letras que o Brasil colônia não importa) e não propôe soluções para o futuro, ao contrário do que se possa entender do título.

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    Comentários

    • Miguel
      Quem escreveu essa resenha não tem a menor noção da gravidade que era o problema da inflação nos anos 90. Tivemos uma série de medidas fracassadas desde o regime militar para tentar controlar a espiral inflacionária. Não se tratava somente de uma inflação de demanda, mas também com aspectos inerciais marcantes, em uma economia fortemente indexada. Se tivesse a menor noção do desafio que isso representava para qualquer economista, entenderia a grandeza do Plano Real e o motivo de exaltarem o feito do governo FHC em resolver este problema histórico. O Plano Real foi muito mais que um plano econômico, foi um plano psicossocial, uma mudança de cultura dos empresários e dos consumidores brasileiros. Sem dúvidas, um dos planos econômicos mais brilhantes da história da humanidade.
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