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    Fugindo do Amanhã
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Fugindo do Amanhã

    Delírios eróticos na Disney

    por Bruno Carmelo

    No papel, a ideia de Fugindo do Amanhã parece ótima: um grupo de jovens decidiu fazer uma ficção nos parques da Disney, na Flórida, sem que o próprio parque soubesse do projeto. Como diversos visitantes locais também possuem câmeras e máquinas fotográficas, registrando tudo ao redor, seria possível passar despercebido e criar uma história envolvendo elementos que a Disney não possui: sexo, terror e a estética em preto e branco.

    O diretor Randy Moore merece os parabéns pela ousadia e pela criatividade. Mas ao invés de construir uma história subversiva e questionadora (como o artista Banksy já havia feito, também com cenas escondidas na Disney, com o excelente documentário Exit Through the Gift Shop), Moore elaborou uma história que curiosamente tem pouco a ver com o universo de Mickey e companhia: o terror não vem do parque (como ocorreria com atrações defeituosas ou funcionários agressivos, por exemplo), e sim de um delírio muito pessoal do protagonista, Jim (Roy Abramsohn).

    Por alguma razão, Jim não consegue parar de pensar em sexo, especialmente em duas ninfetas pseudo francesas (falando francês com um sotaque macarrônico difícil de acreditar) que passam o filme inteiro se insinuando para o marmanjo. Entre o desejo por garotas pré-adolescentes e algumas imagens de mulheres nuas flutuando, Jim começa a perder a cabeça. Assim, ele corre atrás do primeiro rabo de saia disponível no parque de atrações, deixando constantemente as crianças pequenas sozinhas, para ficarem perdidas e serem machucadas por estranhos.

    O roteiro nunca sabe muito bem que tipo de humor ou terror pretende produzir. Em algumas cenas, Jim visualiza seu próprio filho com os olhos inteiramente pretos, como se estivesse possuído – embora o satanismo não apareça em nenhum outro momento da trama. Depois, sugere-se uma perigosa “gripe felina” que poderia causar alucinações. Em outros momentos, aparecem mulheres loucas prestes a abduzir crianças. Entre fantasmas, vírus e pedófilos, nada faz muito sentido, e a escolha da Disney funciona como simples oposição para o jogo alegria versus tristeza, mundo mágico versus mundo aterrorizante, colorido versus preto e branco.

    Assim, qualquer outro parque colorido e repleto de pessoas poderia servir à história, até porque cerca de 40% das imagens é obtida com fundo verde (de péssima qualidade). Além da tela verde, todos os efeitos de som, luz e montagem, fundamentais para a construção de terror e suspense, são de uma precariedade atroz, lembrando os vídeos caseiros que podem ser encontrados à centenas no YouTube. O diretor tenta construir um ou outro enquadramento interessante, mas sem nenhuma coerência estética ou temática.

    É evidente que grande parte da história precisou ser remanejada na montagem, devido às dificuldades de produção. Isso comprometeu, e muito, o resultado, que ficou longo demais, com um humor inconstante e sem o mínimo de tensão. No final das contas, a Disney fez bem quando decidiu não processar a obra: isso apenas daria mais publicidade a um filme que dificilmente chamaria a atenção para além de sua premissa criativa. É irônico perceber que Fugindo do Amanhã pode mesmo funcionar como uma estranha propaganda do parque: ao reservar os elementos de terror à psique perturbada do protagonista e não estabelecer conexões com o cenário ao redor, o diretor acaba reforçando a ideia de que o parque é de fato divertido, mágico e especial. O feitiço virou contra o feiticeiro.

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