Minha conta
    Nós Somos as Melhores!
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Nós Somos as Melhores!

    O catecismo do punk

    por Francisco Russo

    O punk, como todo movimento que nasce underground, tem suas regras próprias que, em muitos casos, batem de frente com o conservadorismo reinante na sociedade. Ainda mais quando conquista adeptos que estejam naquela fase em que contestar é tão necessário quanto respirar, até que se forme ao menos uma noção de personalidade ao chegar na fase adulta. Este é o caso de Klara e Bobo, interpretadas pelas vibrantes Mira Grosin e Mira Barkhammar. Ambas têm 13 anos e amam o estilo punk de ser, refletido não apenas na música mas especialmente na atitude. Sem se importar com o fato do gênero não estar em seu auge há décadas, elas enfrentam quem cruzar seu caminho, dos pais aos amigos (e inimigos), para provar o quanto estão certas em sua ideologia preferida.

    Mantendo o costume, o diretor sueco Lukas Moodysson mais uma vez traz uma história sob o olhar feminino, desta vez remetendo à juventude de seu longa de estreia, Amigas de Colégio (por mais que a temática seja bem diferente deste Nós Somos as Melhores!). Deixando de lado a melancolia existente em seus trabalhos mais recentes, como Para Sempre Lilya e Corações em Conflito, Moodysson investe firme no vigor juvenil aliado às descobertas da transição da infância para a adolescência e uma certa soberba bem-vinda. Sim, pois ao mesmo tempo em que Klara e Bobo sofrem todo tipo de preconceito por serem punks de corpo e alma, elas mesmas também manifestam seus pré-conceitos em relação aos que estão à sua volta - muitas vezes em comentários divertidíssimos! Entretanto, é apenas quando entra em cena o terceiro vértice deste trio que o filme engrena de vez. Por um motivo: ela é cristã.

    Dispostas a montar uma banda punk, mesmo que não tenham a menor ideia de como tocar um instrumento musical, Klara e Bobo vêem a pura Hedvig (Liv LeMoyne, um pouco mais velha que as demais) como a salvação da lavoura. O motivo: ela toca violão, e muito bem. Só que, católica praticante, Hedvig não tem nada a ver com as duas amigas. Para integrá-la ao grupo, a dupla ensina à novata o catecismo do punk, regras básicas que fazem com que ela aos poucos deixe de lado a timidez e se solte em busca de luz própria. É a deixa que Moodysson precisa para, mais uma vez, ressaltar os contrastes entre o conservadorismo e a liberdade de ser e agir. Mas é importante ressaltar: por mais que traga piadas relacionadas à crença religiosa de Hedvig, o filme não chega a ser ofensivo. Há provocações, decorrentes do jeito punk de ser, que nada mais são do que reflexo do comportamento típico de jovens desta idade. Nada além disto.

    Em meio a este espírito de descoberta e ousadia, Moodysson construiu um filme delicioso de assistir. Seja pelo carisma das personagens principais, todas cativantes, pelos diálogos precisos e muitas vezes sarcásticos ou até pela coragem de lutar pelo que acredita. Mais do que um título alto astral, Nós Somos as Melhores! é uma auto-afirmação necessária a quem, no fundo, apenas queria se destacar perante os demais e levar a vida seguindo suas crenças pessoais, por mais rebeldes que sejam. Destaque para "Odeio o Esporte", música-chiclete que acompanha o término da sessão e tão bem define o clima de ingenuidade e coragem envolvendo o trio protagonista.

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    Back to Top