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    Meus Dois Amores
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Meus Dois Amores

    Sem "zorralização"

    por Renato Hermsdorff

    Baseado na novela “Corpo Fechado”, de autoria de Guimarães Rosa, Meus Dois Amores não entrega o que o título – e o cartaz – promete: um personagem central dividido entre uma mulher e uma mula. No filme, o vaqueiro Manuel (Caio Blat) dá muito mais importância à noiva Das Dô (Maria Flor) do que ao estimado animal, a mula Beija-fulô. Ainda bem, porque, por mais que que se trate da adaptação do texto de um autor respeitado, a comédia nacional já teve sua cota de situações absurdas.

    Feita a ressalva, o longa-metragem de estreia de Luiz Henrique Rios, experiente na direção de telenovelas, é um divertido passeio no campo.

    Em tom de fábula, o filme ressuscita arquétipos – para além dos clichês – da literatura brasileira: do mocinho caipira herdeiro de Mazzaropi ao vilão jagunço a la Zeca Diabo ("O Bem Amado", de Dias Gomes, vivido nos cinemas por José Wilker), passando pelo misticismo do curandeiro.

    Tudo isso vestido em uma roupagem sem remendos, de uma qualidade técnica de alto nível, belamente fotografado. (E vale abrir parênteses para a acertada caracterização dos personagens, do figurino à dentição amarelada, bem críveis).

    Na adaptação, Manuel, um cabra falastrão, mas medroso que só (como o João Grilo, de "O Auto da Compadecida", escrito por Ariano Suassuna, para citar mais uma referência literária), está de casamento marcado com Das Dô. Quando o vaqueiro vende um cavalo manco para Targino (Alexandre Borges), o coisa ruim conhecido por desvirginar mocinhas inocentes ameaça desgraçar a moça prometida. E é aí que “Mané” recorre aos trabalhos de Toniquinho das Pedras (Julio Adrião) para fechar o próprio corpo e enfrentar o valentão. Como paga, no entanto, o feiticeiro exige a amada mula.

    Esse é um resumo do roteiro que, previsível, no entanto, deixa pontas soltas. Lá pela metade, fica a impressão de que a história perde o fio. Há casamentos, coronéis, beatas e, principal e negativamente, a coexistência de dois vilões (Targino e Toniquinho) que enfraquecem o que o filme traz de melhor, ou seja, o aspecto arquetípico.

    Caio Blat e Maria Flor não poderiam ser melhores escolhas para os papéis dos protagonistas. Eles não só incorporam o gestual do caipira com graça, como adotam um sotaque exagerado, porém na medida, para seus personagens. Certamente é um jeito de falar para o sul/ sudeste ver, mas ainda assim, a léguas de distância da "zorralizaçãototal" da comédia brasileira nos últimos anos.

     

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