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    O Teorema Zero
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    O Teorema Zero

    Vida tecnológica

    por Francisco Russo

    Quem conhece a carreira de Terry Gilliam sabe que o diretor tem uma queda por tramas complexas e cheias de simbolismos. Brazil é o ápice deste interesse pessoal, ao retratar um Estado totalitário e burocrata, mas é possível também notá-lo em filmes como Os 12 Macacos e Medo e Delírio. O Teorema Zero, seu novo trabalho, talvez seja o filme mais parecido com Brazil, seja pela apresentação de uma realidade distorcida ou pela profundidade do tema abordado. Desta vez, Gilliam quer encontrar nada mais nada menos do que o sentido da vida.

    Para tanto, é apresentado um extravagante e possível futuro próximo, onde as pessoas cada vez mais se comunicam através de aparelhos tecnológicos. É nele que vive Qohen (Christoph Waltz, repleto de maneirismos), um programador obcecado em encontrar o tal teorema zero do título, a mando da empresa em que trabalha. A quase inexistência das relações humanas fica explícita de várias formas, seja pela dificuldade do chefe de Qohen em lembrar de seu nome ou nas roupas espalhafatosas que os personagens usam em uma festa, se travestindo em outras pessoas para que se possa aparentar alguma alegria. Mais ainda: Qohen é extremamente infeliz e sonha em um dia receber uma nova ligação telefônica que faça com que tenha vontade de viver e amar (isto já aconteceu no passado, segundo ele). Ou seja, se por um lado a tecnologia não consegue oferecer a felicidade sonhada, por outro ela está tão entranhada no cotidiano que a única esperança de possível felicidade vem justamente da própria tecnologia, quando ela consegue recriar um mundo onde não é mais necessária.

    É esta ambientação contraditória e suas inúmeras referências, sejam visuais ou em breves comentários, que chamam a atenção em O Teorema Zero. Especialmente quando Gilliam opta pelo extravagante, em muitos casos explorando cores berrantes. É o caso de algumas fantasias da já citada festa, da roupa usada para fazer sexo virtual ou até da esperta sacada da publicidade que acompanha as pessoas nas ruas. Todo este contexto até dá sustentação à complexa busca pelo sentido da vida, especialmente pelo lado bizarro/estranho de tudo o que aparece em cena, mas o grande problema enfrentado pelo filme é a própria explicação do tal teorema zero. Científica ao extremo, ela dá ao filme um caráter hermético que afugenta o espectador.

    No fim das contas, O Teorema Zero é um filme que chama a atenção mais pelo contexto do que pela sua essência. As referências religiosas merecem destaque, inclusive a existência de uma Igreja do Batman, assim como o slogan “tudo está sob controle” utilizado para justificar a presença de uma invasão de privacidade impiedosa, no melhor estilo Big Brother, onde cada passo dado é, de alguma forma, documentado. Um filme intrigante, com algumas boas sacadas, que conta ainda com a boa atuação de Mélanie Thierry como a provocante parceira de Qohen.

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