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    Tese Sobre um Homicídio
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Tese Sobre um Homicídio

    Jogo psicológico

    por Francisco Russo

    O cinema argentino costuma ser reconhecido pela qualidade dos roteiros, muitas vezes explorando temas mais intimistas que, também por isso, são mais identificáveis pelo público em geral – ou ao menos aquele que costuma acompanhar o circuito de arte, gueto inevitável dos filmes que não foram produzidos em Hollywood. Tese Sobre um Homicídio vai um pouco além, pois ainda por cima é um filme de gênero, algo raríssimo no cinema latino-americano.

    A história acompanha Roberto Bermudez (o onipresente Ricardo Darín, figura carimbada em praticamente todos os filmes argentinos que chegam ao Brasil), um especialista em Direito Criminal que ministra um curso bastante concorrido. Seco e um tanto quanto arrogante, Roberto já não vê as coisas com o idealismo da juventude por saber como tudo funciona na prática. Apesar disto, ele sente-se incomodado com o jovem Gonzalo (Alberto Ammann), filho de um velho conhecido, que está matriculado em seu curso por ser fã dele. Quando um brutal assassinato acontece perto da universidade, o professor logo se interessa pelo caso e passa a avaliá-lo, por mera curiosidade intrínseca aos anos de profissão na área criminal. Uma pista leva a outra e, pouco a pouco, Roberto passa a desconfiar que Gonzalo esteja por trás do crime. Mas estaria o professor certo ou tudo não passaria de um uma ilusão induzida por sua mente? É esta a grande questão por trás do filme.

    Bebendo da fonte de filmes que exploram com competência jogos psicológicos entre mestre e aprendiz, como Festim Diabólico e Jogo Mortal, Tese Sobre um Homicídio consegue criar um clima envolvente em torno da possível paranoia de Roberto e seu dúbio relacionamento com Gonzalo, onde a cada instante um desafia o outro. Para tanto o filme conta com um roteiro equilibrado, que conduz o espectador à pista seguinte fugindo sempre do óbvio. Por mais que os indícios apresentados por Roberto sejam nítidos, o filme jamais os assume de fato, o que faz com que a história se torne uma espécie de esfinge que instiga o espectador a decifrá-la. O grande problema é justamente o desfecho do filme, aberto demais e muito aquém do clima investigativo apresentado até então.

    Contando com uma fotografia belíssima, que ressalta o apuro do diretor Hernán Goldfrid em sua realização, Tese Sobre um Homicídio é um bom suspense que, por mais que seja bem desenvolvido e atuado, falha justamente por não ter uma conclusão tão coesa quanto boa parte do duelo psicológico travado entre Roberto e Gonzalo. O resultado é uma sensação de frustração que, se não joga tudo bueiro abaixo, o prejudica bastante. Ainda assim é um filme interessante pelo desenvolvimento do roteiro, as boas atuações e o nítido apuro técnico. Bom filme.

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