"50 tons e 1/2 de amor"
"9 semanas e 1/2 de amor"(1986), ficou em cartaz por 3 anos (!!!) nos cinemas de São Paulo. "50 tons de cinza", causou polêmica e um estrondo geral. Difícil não associar os dois filmes, pois acho quase impossível acreditar que o livro de Erika Leonard James ("Fifty shades of Grey"), que originou o filme, não bebeu da fonte daquele filme, uma vez que o enredo (simples) é basicamente o mesmo : homem conhece mulher e vai a mergulhando em sua sanha sexual peculiar. Incrível como sexo (seja qual for) cause tanto interesse. Por quê será ?
Deixando de lado a pergunta idiota acima, temos o filme de Sam Taylor Johnson e sua direção inexistente. Pode parecer sexista de minha parte (talvez seja), mas mulher não sabe dirigir cinema; ficam tão concentradas no enredo e nos atores que esquecem os fatores técnica, recursos e truques narrativos. Vira novela de tv. A exceção é Kathryn Bigelow e sua direção magistral no furioso e genial "A hora mais escura". Considerou-se Steven Soderbergh (de "Sexo, mentiras e videotape"), para a direção; que com certeza teria impresso tesão ao longa; pois o filme de Taylor não é capaz de provocar uma ereção sequer. Ao menos em quem frequenta pornografia on line (...silêncio ).
Tudo no filme soa inverossímil. Um cara com uma fantasia sexual tão especifica pegaria uma moça na "sociedade mainstream"?; não seria mais viável ir a um clube sado masô ?. Uma moça (virgem !!!) teria aquela reação "nossa, que curioso !!!", ao se deparar com a "playroom" do Sr. Grey ? (lembre-se que ela esperava uma sala com um "x-box"). A sala parece a cozinha do Leatherface, de "Massacre da serra elétrica"; acho que ela sairia correndo para chamar a SWAT e o FBI. Ela zomba diversas vezes da "tara" dele e ele não se irrita. Tudo muito falso ... ou tolo.
Tudo mostra que o filme não quer mergulhar, de fato, no assunto. O sadismo do rapaz limita-se a uns tapinhas no bumbum (pra quê a sala de torturas ? ).
A cena da "reunião de negócios", onde são acertados os detalhes do "acordo" é definitivamente patética. Não saber o que é plug anal, entende-se; mas não ter procurado na internet antes de ir para a reunião é imperdoável, para o filme e para o livro (se teve o diálogo, não li).
E o pior; ele aceitou tranquilamente abrir mão do "fisting vaginal" (!!!) ... Ah! então, não é tão taradão assim (repito: pra quê o açougue particular ?).
No fundo, com tantas campanhas antiviolência contra a mulher, inclusive a implantação da nossa lei Maria da Penha, o filme parece inapropriado. Causa desconforto, às vezes. Em determinado momento, o espectador deixa de acompanhar a história de amor/sexo e começa a se preocupar com a integridade física da moça.
Apesar de não poder ser levado muito a sério, "50 tons de cinza" ainda assim é fácil de se assistir e vale como entretenimento descompromissado. Para conflitos mais profundos e narrativas mais criativas, fique com "9 e 1/2 semanas de amor" (1986, de Adrian Lyne) e "Lua de fel" (1992, de Roman Polanski ).
André Belarmino