O Diário da Esperança, filme húngaro de Janos Szasz, foi o representante de seu país na disputa do Oscar de 2014. Entretanto, apesar da suposta qualidade, é um filme que se perde no meio de uma proposta ousada demais.
O longa pretende mostrar a história de irmãos gêmeos que devido a guerra tem de se separar de seus pais. São enviados então para a casa de sua avó, uma fazenda já na fronteira da Hungria. Lá, eles terão que conviver com um ambiente totalmente estranho, marcado pela guerra, e onde não são de forma alguma bem vindos. Como solução, resolvem abandonar todos os sentimentos que possam prejudica-los.
O filme logo em seu início faz uma apresentação muito boa, os personagens aparecem e são envolvidos na trama de forma a não deixar duvidas. O diário, que é um presente do pai aos gêmeos, é um guia de suas histórias e de como se deu o processo de total perda de todos os sentimentos pelos garotos. É um importante instrumento para a narrativa, e Szasz soube como usá-lo muito bem.
A estética segue o padrão dos filmes europeus, com câmeras estáticas e planos que tentam englobar o máximo as ações ocorridas, para diminuir a alternância dos mesmos. O cenário foi bem escolhido, tanto as cenas externas quanto as internas se assemelham as cidades e fazendas da época, e a excessiva exploração das sombras nas cenas noturnas transmite um ar de solidão bem característicos ao “estilo de vida” que os garotos escolhem.
O problema da narrativa é que cria muitas pontas soltas. Os garotos assim que chegam ao vilarejo de sua avó começam a se relacionar com várias pessoas, e o filme não consegue trabalhar nada além da avó e da vizinha. Parece que o filme acaba apresentando diversos caminhos de leitura, mas muitos deles sem fim.
A nagy Füzget é um filme que tenta trabalhar o ser humano e sua relação com os sentimentos. De fato consegue trabalhar isto, apesar dos graves problemas no percurso. É interessante notar de que forma os gêmeos se modificam no decorrer do filme. O pai é a maior demonstração do que eles se tornaram, e o diretor mostra isso abrindo e encerrando o filme. Mas no final, ainda há aquela cruzada de olhar, dando meio que uma esperança, de que no fundo de toda fera ainda pode haver amor, mesmo que apenas consigo mesmo.