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    Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim

    Sherlock revisitado

    por Francisco Russo

    Desde o lançamento de Toy Story, no já longínquo 1995, a ideia da existência de um mundo oculto aos humanos ganhou força em Hollywood, especialmente nos filmes voltados ao público infantil - era uma forma de investir em um lado lúdico como contraponto à dureza da realidade. Lançado em 2011, Gnomeu e Julieta investia nesta vertente ao apresentar a vida dos gnomos de jardim, popularizados mundo afora graças a O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, em um cenário que revisitava a obra maior de William Shakespeare. Aqui, a proposta é a mesma, mas sob a inspiração do personagem mais famoso de Arthur Conan Doyle: Sherlock Holmes.

    Tal mudança, é claro, altera um pouco o norte da franquia: sai de cena o romance, entra a aventura detetivesca. Para tanto, o gancho principal é a chegada dos gnomos em Londres, onde um conflito mal fundamentado entre o casal protagonista resulta no súbito desaparecimento de todos seus colegas de jardim. Os únicos que podem ajudá-los são Sherlock Gnomes e seu fiel escudeiro Watson, também personagens de porcelana.

    Esta é a deixa para um verdadeiro mergulho no universo literário do personagem, tantas vezes já adaptado para a telona e a telinha. Inclusive, é desta última que vem uma forte inspiração para esta versão, a série Sherlock estrelada por Benedict Cumberbatch e Martin Freeman, especialmente na construção do vilão Moriarty: espalhafatoso e beirando o histérico em sua obsessão em derrotar o rival, ele remete demais ao personagem interpretado por Andrew Scott - inclusive, há uma sequência de Moriarty simultaneamente em várias câmeras que é praticamente idêntica na série. Soma-se a isto um punhado de referências ao universo do detetive, de Irene Adler ao cão dos Baskervilles, passando pelo ótimo Palácio Mental.

    O refúgio mental de Sherlock Holmes aqui é caracterizado em uma lisérgica animação em 2D, onde vários Sherlocks contracenam consigo mesmos em uma varredura interna pela chave do enigma proposto. O filme, por sinal, é repleto de sacadas saborosas: de Chinatown aos esgotos de Londres, as ambientações da cidade são bem exploradas de forma a desenvolver uma aventura divertida e cativante. Soma-se a isto a ótima, e inconfundível, dublagem de Johnny Depp para Sherlock Holmes, brilho maior em meio a um elenco de vozes estrelado.

    Diante de tantas novidades bem-vindas, o peso do filme atende justamente ao que já existia - ou ao menos, a parte dele. Por mais que Gnomeu e Julieta até funcionem a contento quando separados em meio à aventura, a subtrama criada logo no início do filme para que nasça um atrito entre eles soa bastante simplória e até mesmo gratuita. Apenas quando Sherlock entra em cena, assumindo para si o protagonismo deste longa-metragem, é que a animação emplaca de vez. Além disto, há um deslize no roteiro em relação à revelação do mundo oculto dos gnomos para os humanos, quando a existência de Sherlock Gnomes é citada em uma reportagem na TV.

    Ao som de muito Elton John, que tem uma breve ponta caracterizado como gnomo de jardim, Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim é um filme divertido que consegue mesclar a reverência a ícones do passado com sequências criativas e bem-humoradas, mesclando um visual colorido com um bom ritmo nas sequências de ação, de forma a prender a atenção da criançada. Sempre, é claro, com o charmosíssimo tilintar de porcelona, onipresente em todo o filme.

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    Comentários

    • Tim Meme
      Faltou magia, graça nem as referências salvam o filme da mediocridade.
    • Danil BR
      Ótima crítica, só faltou falar sobre a versão brasileira de Sherlock, em que Alexandre Moreno está impecável, como sempre.
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