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    Tropicália
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Tropicália

    Salada antropofágica

    por Francisco Russo

    O cinema brasileiro foi pródigo na seara dos documentários musicais na última década. De Nélson Freire a A Música Segundo Tom Jobim, muitos foram os artistas homenageados e relembrados pelos mais diversos diretores. Entretanto, apesar da quantidade, poucos foram os filmes que buscaram compreender movimentos musicais da história do país. Tropicália vem suprir um pouco esta lacuna, ao apresentar o movimento liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil que teve início em 1967 e chegou ao fim apenas dois anos depois, graças ao exílio imposto pela ditadura militar.

    Assim como boa parte dos documentários musicais, o filme aposta firme nos depoimentos das pessoas envolvidas com a Tropicália. Desta forma é explicado de onde veio o nome, as influências além da música, os conceitos teóricos – "é uma salada antropofágica, uma mistura dos erros cometidos pelo país" -, os artistas que faziam parte do grupo e aqueles que o apoiavam. Entretanto, o grande pulo do gato do diretor Marcelo Machado é mostrar tais explicações a partir das imagens da época. Ou seja, ao invés de "parar" o filme para acompanhar alguém falando, o espectador tem a chance de ver cenas do período com o áudio comentando sobre aquele momento em especial. Este simples artifício dá ao filme uma dinâmica incrível, auxiliado por uma edição esperta e algumas brincadeiras visuais bacanas, como a inserção de um curativo na borda de uma imagem antiga de má qualidade.

    Além da narrativa ágil, Tropicália conta com algumas pérolas da música brasileira. Entre elas a célebre apresentação de Gilberto Gil com os Mutantes ao cantar "Domingo no Parque", exibida também no documentário Uma Noite em 67, e cenas de Caetano no III Festival Internacional da Canção, onde é vaiado ao cantar "É Proibido Proibir". As dezenas de fotos e imagens de arquivo revelam também um minucioso trabalho de pesquisa, crucial para a compreensão não apenas do movimento mas da própria época retratada.

    Já em sua reta final, o filme ganha peso ao retratar o manto da ditadura agindo sobre os músicos e o quanto ela influenciou em suas vidas. Este é o único trecho em que a câmera acompanha os entrevistados, pela relevância do que é dito, como no depoimento de Tom Zé, ou das reações faciais, no caso de Gil e Caetano ao verem cenas após o retorno do exílio. Como um todo, Tropicália alcança seu objetivo: retratar o movimento sem ser careta, com um pouco da mistura e da alegria que seu próprio objeto de estudo representava. Um bom filme, para iniciantes e iniciados no tema.

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