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    Onde a Coruja Dorme
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Onde a Coruja Dorme

    Malandragem do morro

    por Lucas Salgado

    Um dos grandes nomes da história do partido alto e do samba no Brasil, Bezerra da Silva foi uma figura extraordinária. Na verdade, continua sendo, afinal sua música continua viva na mente de muitas pessoas. Onde a Coruja Dorme é um documentário nada convencional sobre este artista e tem tudo para colaborar para a valorização de seu nome.

    O filme não busca informar quando Bezerra nasceu ou morreu. Não fala de suas conquistas e da dificuldade que passou para emplacar como artista. Opta, sim, por um foco totalmente diferente, fazendo um apanhado de figuras do morro que compuseram canções para ele cantar.

    Ao retratar figuras humildes e sempre interessantes como Tião Miranda e sua convicção da importância do ramo da refrigeração ou como Pedro Butina e seu trabalho de desprende oxigênio do homem, o longa se torna não só atrativo para fãs de Bezerra como um bom entretenimento. Ao final, serve não apenas como um documentários sobre o artista, funcionando também como um retrato muito interessante da vida no morro.

    Em determinado momento, um compositor afirma: "Pegar no três-oitão é fácil, mas precisa de disposição para apertar o gatilho e eu não tenho essa disposição." Aí, o filme pretende reforçar a diferença entre o malandro e o bandido. O primeiro é a figura central do longa e de todas as músicas cantadas por Bezerra. É curioso vê-lo afirmando que sempre recusou de seus compositores músicas românticas por não ter vivido um grande amor, dando preferência às canções que exaltam a tal malandragem.

    O longa teve como ponto de partida o curta Coruja, lançado em 2001. Na verdade, os diretores Simplício Neto e Márcia Derraik usam aqui muitas imagens repedidas do filme de 15 minutos. A diferença é que em Onde a Coruja Dorme vemos um leque bem maior de compositores e um foco maior nos depoimentos, enquanto que o curta era quase que puramente musical.

    É sensacional e quase uma experiência antropológica entrar de cabeça no universo de Bezerra e conferir a linguagem da comunidade, que fala em "bicho-soltos", "bater a real" e "sujeitos-homens", isso sem esquecer que "o bicho não pega, o que pega é a vacilação".

    Músicas como "Seqüestraram Minha Sogra", "Overdose de Cocada", "Quem Fala Mal de Mim Tem Despeito" e a clássica "Malandragem Dá Um Tempo" integram a ótima trilha de Onde a Coruja Dorme, que é um filme para se ver, ouvir e se divertir.

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