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    Meu País
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Meu País

    Sensação de Exílio

    por Francisco Russo

    Devido à recente história brasileira, a palavra exílio logo lembra política. Entretanto, seu sentido é mais profundo. Ser exilado é ser impedido de pertencer a algo, forçado a viver longe do seu cotidiano natural. Meu País trata exatamente desta sensação. Apesar de não ser um filme político – o tema sequer é tocado –, trata-se de um filme sobre a necessidade do ser humano em fazer parte de algo, de ter e perceber suas raízes. O título é uma referência a isto, sem qualquer caráter ufanista ou patriota. É o Brasil, mas poderia ser qualquer outro lugar, não importa. A sensação é o que está em jogo, aquela certeza de pertencer a um lugar sem ter como explicar direito.

    A história começa com Marcos (Rodrigo Santoro) recebendo uma ligação em Roma, onde trabalha. Informado da morte do pai (Paulo José), ele deixa o trabalho de lado e volta ao Brasil, acompanhado da namorada (Anita Caprioli). Já no país reencontra o inconsequente irmão mais novo, Tiago (Cauã Reymond), e descobre uma bomba: o pai teve uma filha com problemas mentais, Manoela (Débora Falabella), e a manteve escondida por mais de 20 anos. Internada em uma clínica, ela precisa deixar o local. É através dela que Marcos passa por um processo de redescoberta, de si mesmo e da família.

    Há uma delicadeza onipresente em Meu País, mesmo no início onde os dois irmãos são apresentados de forma quase burocrática: Marcos é o certinho que fez carreira fora do país, Tiago o encrenqueiro mimado. Esta dualidade vem abaixo graças ao terceiro vértice, Manoela. Vista como problema, sua doçura aos poucos muda o rumo da situação. Mérito da luminosa interpretação de Débora Falabella, que transmite um olhar de pureza encantador. Mérito também de Rodrigo Santoro, que brilha não apenas na perfeita sonoridade do italiano mas também nas sutis mudanças de seu personagem ao longo da história, imperceptíveis em certos momentos mas sempre caminhando rumo à sensação do exilado e uma necessidade que ele próprio desconhecia.

    Meu País é um filme sensível, muito bem produzido e interpretado, que conta com uma fotografia que acompanha o clima de redescoberta das memórias de seu protagonista. Um filme que passa pela dificuldade em fazer o certo, mas que acima de tudo mostra que pode-se viver bem em qualquer lugar, mas há dentro de si algo que jamais permite que se sinta de forma plena a não ser que esteja no seu lugar. Muito bom.

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