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    Família Braz - Dois Tempos
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Família Braz - Dois Tempos

    A Grande Família

    por Francisco Russo

    Um estudo sobre as mudanças ocorridas no Brasil na última década. Assim pode ser chamado o documentário Família Braz – Dois Tempos, mesmo sem jamais ter sido este seu objetivo. O interesse era saber o que aconteceu com os personagens retratados em A Família Braz, lançado em 2000, dez anos após sua realização. Uma ideia na cabeça dos diretores Arthur Fontes e Dorrit Harazim, que não sabiam bem o que esperar.

    Mesclando cenas rodadas em 2010 com outras do filme original, o que se vê na tela é um interessante paralelo sobre o quanto a vida de uma típica família de classe média baixa foi afetada pela realidade à sua volta. O cenário é o mesmo: o bairro de Brazilândia, periferia de São Paulo, onde eles seguem estabelecidos. Só que muito à sua volta mudou. “As panelas são outras”, diz a mãe, em sua humildade. Não apenas isto. Aos poucos cada um dos quatro filhos da família Braz é apresentado, trazendo um pouco de sua história pessoal. É através destes relatos que pode-se notar, nitidamente, o quanto o bom momento econômico vivido pelo país nos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula possibilitou a melhoria de vida de todos.

    É claro que nem sempre foi assim. Houve momentos de aperto, onde o desemprego estava instalado e parecia não arredar pé de forma alguma. Houve também oportunidades, que permitiram o crescimento, pessoal e profissional. Há também o orgulho, por ter tido a chance de lutar pelos seus sonhos e vê-los realizados, representado na bela cena da família Braz à frente de sua frota de carros. Algo que ganha ainda mais peso ao saber da luta que tiveram para realizar o sonho do carro próprio, no filme original. Dez anos, muitas mudanças.

    Mudanças também nos conceitos, em alguns casos até mesmo surpreendentes. É a importância dada ao carro, não apenas como veículo de locomoção mas também como símbolo de status. É a rua do bairro, agora repleta de veículos. É a consciência do preconceito enfrentado por morar na Brazilândia e, ainda assim, optar por lá permanecer. É a troca de valores entre mídia e polícia, onde a primeira ganha maior importância por trazer mais resultados práticos aos moradores da região. Situações que mostram como é o Brasil de hoje, com seus erros provocados por uma sociedade ainda profundamente desigual, na distribuição de recursos e serviços à população, mas que tem sido mais generoso nos últimos anos.

    Por permitir uma análise sobre o que aconteceu no país na última década, pode-se dizer que Família Braz – Dois Tempos tem um fundo antropológico. Entretanto, o mais interessante é constatar que o filme poderia ser muito diferente, por vários motivos. A sensação de bem estar reinante não foi intencional, mas resultado dos rumos que a vida deu à família Braz. Bom filme, que faz pensar e ainda provoca uma surpresa ao final, com um anúncio que mexe com o espectador.

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