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    Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos

    Uma História Brasileira

    por Francisco Russo

    É da natureza do brasileiro uma certa desenvoltura ao falar de sexo. Trata-se de uma questão cultural, ampliada pela própria formação da sociedade através da mistura do branco europeu com o negro africano e o índio americano. Esta característica atravessou os séculos e se manifestou de diversas formas. No cinema, especialmente entre as décadas de 60 e 80, em um estilo de filme mais sacana, mais provocador e, muitas vezes, mais explícito. Que teve também suas musas, como Sônia Braga, Vera Fischer e Nicole Puzzi. Seu sucesso logo fez com que este estilo se tornasse dominante no cinema nacional, o que ao mesmo tempo era uma mostra de sua consagração mas também resultou no início de seu fim. Logo o cinema nacional passou a ser taxado, discriminado como algo que tinha por objetivo apenas despir suas atrizes, ao invés de contar uma boa história. Foi a época da decadência, em meados dos anos 90.

    A retomada do cinema nacional buscou, de várias formas, se dissociar desta época. Para demonstrar diversidade e também para fugir do estereótipo reinante, que fazia com que muitas pessoas não vissem filmes brasileiros de forma alguma. Deu certo. Só que esta é uma característica natural do brasileiro, que lida e fala tranquilamente sobre sexo de forma, para alguns, despudorada. Se o cinema tem por função também retratar a realidade, isto também teria que chegar às telas em algum momento. E assim, aos poucos, surgiram filmes mais ousados. Um Copo de Cólera, Entre Lençóis, Budapeste... Filmes que não tinham por objetivo despir seu elenco, mas que usavam esta nudez em prol do roteiro. É este também o caso de Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos.

    A história gira em torno de Zeca (Caio Blat), prestes a chegar aos 30 anos e meio perdido na vida. Vive há cinco anos com Júlia (Maria Ribeiro), por ele definida como uma "típica personagem de filme francês: linda, inteligente e fria". Zeca sonha em concluir um livro, mas empacou por volta da página 50. Sustentado pelo dinheiro deixado por sua mãe, já falecida, ele nada tem a fazer a não ser vagar pela cidade. Só que, como diz um velho ditado, mente vazia é oficina do diabo. É o que ocorre quando ele vê, por acaso, Júlia e uma colega em um camarim de loja, apenas usando roupas íntimas. Zeca rapidamente conclui que ela o está traindo, com outra mulher.

    O triângulo amoroso está então formado, sob um aspecto contemporâneo. A traição "tradicional" é substituída por um possível relacionamento homossexual. Esta é uma característica importante: Histórias de Amor... é um filme que retrata a sociedade atual. E, como tal, não poderia se ater de contar também com a liberdade sexual existente. Por se tratar de uma história caliente, o filme também apresenta cenas quentes. Só que não se trata de algo gratuito, mas necessário à história e ao clima que se deseja criar.

    O desenrolar da trama faz com que o foco principal migre do ciúme para o desejo, já que Zeca passa a se interessar cada vez mais pela possível amante de Júlia. Neste ponto há duas questões importantes: o olhar masculino, revelado através da prioridade dada aos pensamentos e fantasias de Zeca, e o conflito interno que o personagem passa a sentir, colocando em contraponto a felicidade e a moralidade da situação em que está envolvido. Esta última questão fica bastante explícita no final que, se por um lado pode servir como anticlímax, por outro é um retrato realista sobre a situação apresentada.

    Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos é um filme que diverte e, de certa forma, faz refletir sobre a dificuldade que é o relacionamento humano. Há espalhadas por todo o filme pitadas de erudição, que geram momentos divertidos ou pelo menos curiosos. As citações de Rubens Fonseca e Paulo Coelho são bons exemplos. Há também uma linguagem moderna, com o uso de quadrinhos, e uma fotografia que busca explorar os corpos dos atores de forma a fazer com que o espectador também perceba o tesão ali envolvido. É um filme necessariamente ousado para a história proposta. Ainda bem.

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