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    Mapplethorpe
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Mapplethorpe

    Biografia dentro dos moldes

    por Barbara Demerov

    Robert Mapplethorpe foi um artista completo: através de seu olhar diferenciado ele captava o que havia de mais natural nas pessoas e na natureza. Mesclando erotismo e flores, assim como retratos de celebridades (como Andy Warhol, Iggy Pop, e Arnold Schwarzenegger) e muita nudez, ele foi abrindo seu espaço no cenário artístico americano e construiu uma carreira diferenciada com vários tons - por mais que todos seus retratos tenham sido produzidos em preto e branco.

    Sua biografia, dirigida por Ondi Timoner, é digna em nos apresentar sua história pessoal e artística, assim como seus maiores trabalhos. No entanto, é impossível deixar de pensar que Mapplethorpe tem como resultado algo muito próximo ao padrão de diversas cinebiografias lançadas anualmente; e o motivo não chega a ser a montagem ou a direção, que são eficientes. A questão recai no roteiro e no direcionamento da breve, mas brilhante vida do artista. Sem entrar muito a fundo nos detalhes, a linha do tempo não desenvolve as inspirações de Robert e ao mesmo tempo passeia pelos diversos relacionamentos que o artista viveu, seja com a também artista Patti Smith ou com Sam Wagstaff. Sabemos que ele é brilhante, mas não temos um vislumbre de onde vem tanta intuição: ele já é apresentado assim, com raríssimos diálogos que tentam esclarecer tal questão.

    A falta de descrição, apesar da boa qualidade na apresentação do "backstage" de algumas de suas fotografias, interfere na aproximação com o próprio Mapplethorpe. Fora a ótima atuação de Matt Smith como o polêmico fotógrafo, seu alcance torna-se limitado perante ao filme, que se contenta em apenas mostrar os highlights de sua existência, tragicamente interrompida aos 42 anos por complicações com o vírus do HIV.

    A rapidez com que a narrativa se desenrola dificulta também a exploração de personagens como os de Patti e Sam. O único que parece se aproximar mais do verdadeiro Mapplethorpe é seu irmão, que em determinado ponto começa a trabalhar junto com sua arte. No restante, até mesmo seu relacionamento com os pais é apresentado como frágil e distante, sem que haja maiores explicações. A atenção é dada de maneira correta ao artista, mas ela acaba pecando ao manter certa distância de seu íntimo, que certamente daria resultados interessantes e não superficiais.

    Mapplethorpe dá uma boa noção visual de como viveu o sensível e estiloso artista, mas não aproveita seu próprio vasto conteúdo para explorar algumas origens e inspirações. A impressão que fica, com a rápida apresentação e ascenção do protagonista, é a de que estamos vendo tudo acontecer de maneira frívola, sem que os meios justifiquem os fins. Sendo um artista com um leque de nuances e possibilidades criativas, é uma pena que Mapplethorpe possua uma biografia comum, que não mostra mais do que já é possível saber ao lermos sobre ele.

    Filme visto no 26º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2018.

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