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    Barbara
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Barbara

    O horror em potencial

    por Bruno Carmelo

    O espectador que assistir a Barbara sem ter lido a sinopse pode ficar confuso no início. De que trata a história? Por que a protagonista foi transferida de um hospital em Berlim, onde trabalhava, para uma pequena cidade do interior? Quem está constantemente perseguindo esta mulher, e por quê? Quais são os seus planos? Aos poucos, o diretor Christian Petzold responde a todas as perguntas, de maneira tranquila e fluida.

    Este filme tem uma atmosfera muito particular. Petzold seria capaz de retratar uma guerra mundial como se fosse uma briga familiar, pelo domínio das proporções e da metonímia. O espaço, em Barbara, é um personagem central: esta mulher passa a história toda percorrendo grandes florestas abertas, ruas desertas, corredores longos e vazios de um hospital. Mas o fato de ser ameaçada, aliado ao enquadramento fechado e ao formato de tela quadrado, sugere a claustrofobia da personagem. As cenas de medo durante o dia, ao ar livre, podem ser muito mais assustadoras do que a escuridão da noite, e o diretor compreende isso muito bem.

    É difícil dizer que a trama busca a identificação do espectador com Barbara (Nina Hoss), já que esta mulher guarda segredos de todos, inclusive do público. Ao mesmo tempo, também não é possível saber, até a cena final, se o médico André (Ronald Zehrfeld) quer ajudá-la, ou se simplesmente está espionando-a a pedido do governo. Diferentemente das produções em que o público conhece todas as peças do jogo, e participa como voyeur, neste caso nos faltam tantas peças quanto aos personagens. Não se pode confiar em ninguém, e desta comunicação truncada entre Barbara, André e o público, nasce a impressão de frieza da obra.

    Talvez, de fato, Barbara seja frio – no sentido em que não se toma partido de ninguém, nem se apela para explicações históricas sobre a situação política na Alemanha do Leste. Também não há cenas de catarse (gritos, choros) ou um clímax propriamente dito. Petzold domina a fina arte da sugestão, indicando o terror da vigilância permanente, sem mostrar os verdadeiros patrões do crime ou as consequências da opressão do governo. Existe uma vida tensa e alarmante fora de quadro.

    Barbara acaba sendo um filme tão inteligente quanto perverso, porque prefere sugerir imagens na cabeça do espectador sem jamais mostrá-las. Apela-se para um vasto imaginário coletivo vasto sobre a Guerra Fria, recheado de imagens sobre o potencial da guerra, da morte, dos confrontos armados. O silêncio se mantém até a surpreendente cena final, um provável divisor de águas: algumas pessoas devem adorar, outras detestar. De qualquer modo, é reservado para a conclusão um grito preso na garganta, um destino ambíguo oferecido à protagonista. Uma sugestão de horror.

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