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    Laura
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Laura

    Duelo nas telas

    por Francisco Russo

    Quem é Laura? Esta é a pergunta que norteia boa parte do documentário Laura, sem trazer ao público uma resposta exata. Ao longo do filme é possível perceber bastante de sua personalidade, mas ao mesmo tempo pouquíssimo sobre seu passado – por vontade dela mesma, que se recusa a esmiuçar em detalhes sua vida pregressa. Para Laura, importa dizer que ela mora em Nova York há décadas e leva uma vida dedicada à diversão. Apaixonada pelo glamour do cinema, faz o que pode para entrar em pré-estreias e festas badaladas, que às vezes contam com a presença de celebridades. São emblemáticas as cenas em que ela tenta, de alguma forma, falar com um Clive Owen entretido pelos convidados do lançamento de Duplicidade. Para Laura, a aparência é tudo e é baseado nela que deve ser um filme sobre sua vida.

    Por outro lado, há a visão do diretor Fellipe Barbosa, que a conheceu quando ainda cursava cinema em Nova York. Após sete anos de muita insistência, enfim conseguiu convencê-la a autorizar um documentário sobre sua vida. Só que Fellipe quer de Laura mais do que ela deseja oferecer; deseja saber sobre seu passado, como ela se sustenta, quais são seus reais interesses, por que armazena em um pequeno apartamento tanta tralha... Todos temas incômodos para a protagonista, que muitas vezes explode com o diretor diante das câmeras. Se o filme é sobre sua vida, e ela se autodenomina como uma “movie star”, qual seria o interesse nestas miudezas do dia a dia? Pois é justamente este confronto o que o documentário tem a oferecer de melhor.

    Em tempos de discussão sobre biografias não-autorizadas, Laura aborda o mesmo tema só que em relação ao cinema: até que ponto o biografado tem o direito de decidir o que deve ser mostrado sobre sua vida? Aos poucos a pergunta inicial sobre quem é Laura se transforma nesta questão crucial, onde o mundo cor de rosa que a protagonista deseja mostrar bate de frente com os interesses autorais do diretor. O mais curioso é que, também diante desta discussão, o espectador passa a ter um panorama bastante abrangente sobre quem é Laura. Pode não saber detalhes específicos sobre sua vida, mas seu temperamento e interesses estão explícitos na telona – por mais que ela não queira.

    Como meio de discussão, Laura funciona bem – mesmo levando-se em conta que, em certos momentos, não apenas a protagonista mas os demais que aparecem em cena estão “atuando” para a câmera, por terem a consciência de que estão sendo filmados. Trata-se de um filme nitidamente incompleto devido às dificuldades inerentes a este embate, mas cuja beleza está justamente neste aspecto. Fosse mais revelador e provavelmente não atrairia nem metade do interesse que possui no formato atual.

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