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    O Enigma Chinês
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    O Enigma Chinês

    Perdido aos 40

    por Francisco Russo

    Ao ser lançado, em 2002, Albergue Espanhol chamou a atenção muito graças à efervescência causada por uma cidade que não para, como é Barcelona, aliada à própria pluralidade europeia, já que os protagonistas no fundo representavam as diferentes culturas existentes no continente. Três anos depois, o público teve a chance de saber o que aconteceu com aqueles personagens, agora um pouco mais velhos, em Bonecas Russas. Mais do que saciar a curiosidade, esta primeira sequência mostrava também um amadurecimento nos relacionamentos, especialmente em relação ao protagonista Xavier (Romain Duris). Oito anos depois, a trupe de amigos está de volta em O Enigma Chinês e a pergunta que fica em mente é: por que?

    O mote principal agora é a crise dos 40 anos, vivida em sua plenitude por Xavier. O casamento não deu certo, ele está sozinho e, para completar, a ex parte para os Estados Unidos junto com as crianças. Recusando-se a viver longe dos filhos, Xavier logo se muda para Nova York. É quando o filme divide sua atenção a dois temas distintos, mas que caminham juntos: ao mesmo tempo em que aborda uma certa melancolia pelo fracasso das relações amorosas do protagonista, também apresenta uma espécie de guia para estrangeiros nos Estados Unidos, com direito a todos os estereótipos possíveis sobre obtenção de green card, trabalho sem carteira assinada, alto custo de vida e choque cultural. É O Enigma Chinês tentando fazer graça, com poucos momentos bem sucedidos.

    Entretanto, é justamente o outro tema o mais interessante do filme. Há em Xavier uma tristeza sobre sua vida atual, como se estivesse convencido de que, agora que chegou aos 40, nada mais de interessante acontecerá consigo - "a chama não existe", diria ele -, precisando se convencer a levar a vida mediana de sempre. Esta sensação é refletida inclusive na própria escolha do país que sedia O Enigma Chinês: os Estados Unidos, pais do pragmatismo, onde cada um cuida de sua vida sem se importar com o outro, ainda mais em uma cidade gigantesca como é Nova York. Porém, para evitar que o filme como um todo ganhe um ar deprê ou sério demais, o diretor Cédric Klapisch optou por amenizar o clima com as tais piadinhas de situação envolvendo a ideia do estrangeiro fora de seu lar e outras com um ar intelectual, brincando com filósofos alemães renomados. Acaba sendo um tiro no próprio pé.

    No fim das contas, O Enigma Chinês não se aprofunda em seu tema central e acaba servindo apenas como mera curiosidade sobre o que aconteceu com os personagens (isso para quem viu os anteriores, é claro!). Quem não pôde assistir Albergue Espanhol ou Bonecas Russas não precisa se preocupar: por mais que ambos ajudem a melhor compreender os relacionamentos entre os amigos, é perfeitamente possível assistir ao novo filme sem estas informações prévias. Ainda assim, é preciso ressaltar que trata-se do pior filme da trilogia. Algo que chama a atenção é a escolha de Klapisch em mostrar uma Nova York longe de seus cartões postais, muitas vezes apresentando trechos feios que toda cidade grande também tem. Acaba sendo coerente com o momento de vida de Xavier.

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